terça-feira, dezembro 29, 2015

Quando chove mas finges que está sol


O mundo continua recheado de pessoas que vivem iludidas. Iludidas com a vida em geral e com tudo o resto em particular! Quando chove torrencialmente, porque é época de monções, querem acreditar cegamente que estão em pleno verão. Se está frio não querem perceber que convém vestir um agasalho. E, mais importante em tempos onde reina a austeridade laboral, ignoram o óbvio e transformam-se numa espécie de anarquistas sem nome, objectivos ou preocupações.

Não se preocupam com elas próprias e muito menos com os outros! Ignoram, como sempre, o óbvio e com isso iludem-se prejudicando todos os que com eles se cruzam. Não percebem - porque lhes falta (pelo menos) inteligência emocional - que quando uma casa está a arder ou se uma família está em apuros todos devem unir esforços... E não o contrário! Porque o contrário apenas acelera a queda da casa.

Por vezes, o melhor é abandonar a casa e deixar lutar aqueles que o querem realmente fazer!

terça-feira, dezembro 22, 2015

O Contribuinte? Ai aguenta aguenta...

A história volta a ser redundante. Um banco, à rasca, é intervencionado. Ou melhor, faz uma cirurgia, sobrevive, é vendido, mas os custos da operação são os contribuintes que asseguram! Ninguém lhes perguntou se estavam disponíveis para isso ou o que é que pensavam sobre a situação. Foi-lhes dito - foi-nos dito! - que havia risco sistémico.

A factura será paga ao longo dos anos sendo que os activos problemáticos - os resíduos que ninguém com bom senso quer - ficam na posse dos contribuintes. No entanto, há um aspecto que interessa analisar: a (falta de) responsabilização dos vários intervenientes em todos estes casos. Há a gestão/administração da instituição; os reguladores - Banco de Portugal e CMVM; os governos e também as autoridades europeias, ou seja, o BCE. E o problema reside aqui. Os vários elementos desta equação guardam o segredo, que é a situação débil do banco, e quando já não há nada a fazer divulgam esse segredo.

No Banif, além da nacionalização parcial, protelou-se a venda ou o futuro sustentável do banco. Esperou-se que o tempo tratasse do assunto. Todavia, o tempo mostrou que não havia solução fácil para a instituição que acabou por perder centenas de milhões de euros quando os depositantes começaram a ver que onde havia fumo havia mesmo fogo. E mais uma vez - à semelhança do que aconteceu com o BES - o governo avançou quando o BCE avisou que ia fechar a torneira.

A crise, já o escrevi, justifica muita coisa. Mas não tudo! É preciso apurar-se responsabilidades. E para isso não bastam as comissões parlamentares de inquérito. É preciso que a justiça actue. Pelo meio, é preciso ver se não haverá mais bancos a precisarem de ajuda. Se esse for o cenário, então já conhecemos a receita que foi bem explicada por um outro banqueiro a respeito dos impostos em Portugal: o contribuinte? Ai aguenta aguenta!


sábado, dezembro 19, 2015

Despedimentos a mais

Noticiámos, ouvimos e lemos a melhoria de alguns indicadores em Portugal. Melhoraram os números, não todos, mas a economia real continua igual a si própria: cresce pouco, conta todas as migalhas e no final sobra pouco. Muito pouco.

O problema maior é que para manter postos de trabalho não chegam migalhas. Sinónimo disso são os 120 trabalhadores que foram para a rua no Sol e no i; os 70 funcionários do centro de produção da Unicer em Santarém e os 500 trabalhadores da Soares da Costa. Em números redondos, desapareceram 700 postos de trabalho em cerca de um mês.

Só nas empresas que fizeram manchete. Seguir-se-ão mais! Nos media, na banca – o Financial Times estima mil colaboradores no Novo Banco e há ainda o Banif. A crise justifica muita coisa. Mas não tudo. Multiplicam-se as explicações para as causas deste flagelo. O que se vê (muito) pouco é o escrutínio à gestão que é feita nestas empresas.™

sábado, novembro 21, 2015

Vidas Cruzadas

Artigo publicado a 19 de Novembro de 2015 no DE sobre os atentados de Paris:

Os atentados de 13 de Novembro em Paris deixaram a descoberto várias histórias que têm em comum o terrorismo, mas também a sobrevivência, a coragem e a memória que vencem o medo mesmo quando os tempos são de incerteza.
O filme “Crash”, de 2004, retratou bem a questão do preconceito e do racismo, mas mais importante, relembrou-nos que há histórias que estão inter-relacionadas.

Quis o destino que, depois da polémica mundial do ‘dieselgate’ a envolver a Volkswagen, o tema diesel fosse novamente notícia mas por causas bem mais nobres. A Diesel desta história fica, infelizmente, associada aos atentados de 13 de Novembro em Paris. Foi abatida a sangue-frio cinco dias depois, na zona de Saint-Denis, durante uma operação policial que evitou não só um novo atentado como terá servido para eliminar o cérebro da carnificina. A sua coragem fez com que, de uma mega operação e de altíssimo risco, resultassem, apenas, cinco polícias feridos. A Diesel, um dos cães-polícia utilizados pelas autoridades francesas, detectou os explosivos que preenchiam um apartamento. Morreu a fazer aquilo para que foi treinada: detectar explosivos e salvar vidas humanas. Tinha sete anos, era um pastor belga, e conseguiu terminar a sua missão com a dignidade que lhe foi permitida. A França e o mundo não a esqueceram! O hashtag #JeSuisChien foi criado em sua homenagem e foi o segundo mais utilizado, no Twitter, no mesmo dia em que foi abatida.

Nas histórias dos atentados de Paris fica ainda uma outra que serve de homenagem às, pelo menos, 129 vítimas mortais: o caso de Hélène Muyal, de 35 anos. Estava no local errado à hora errada. Perdeu a vida no teatro Bataclan quando assistia a um concerto onde um luso-descendente se fez explodir. O corpo de Muyal, que deixa um filho com apenas 17 meses, foi identificado dias depois pelo marido, Antoine Leiris, jornalista da rádio France Bleu. E foi pelo cunho deste jornalista que a história se tornou viral. Numa carta aberta e depois numa entrevista televisiva, Antoine afirmou aquilo que ninguém esperaria, que os terroristas não terão o seu ódio, apesar de lhe terem assassinado a mulher.

A história de Hélène cruza-se com uma outra, a de um menino com cerca de três anos que está com o pai junto a um dos vários locais de homenagem às vítimas de Paris. O momento é captado por uma estação televisiva. O jovem diz ao pai que têm de procurar outra casa porque há “mauzões” que matam as pessoas com armas. E mais uma vez, a resposta do pai é surpreendente ao explicar que a sua casa é em França e que as armas combatem-se com flores, as mesmas que relembram as vítimas.

As carnificinas como a de Paris têm um aspecto que, apesar da frieza indescritível dos eventos, é muito positivo: une as pessoas e revela-lhes que há muitas histórias que se cruzam sem que isso fosse premeditado.
Estas três histórias – haverá muitas outras! – partilham o selo de sangue dos atentados terroristas de Paris. O mesmo que marcou também o jogo de futebol entre a Inglaterra e a França, no Estádio de Wembley. As nações uniram-se e o estádio vestiu-se com as cores da bandeira francesa. Nas bancadas e no campo ouviram-se mais de 80 mil pessoas a entoar “A Marselhesa”. Foi simbólico. Tão simbólico quanto as flores que, para uma criança de três anos, têm a capacidade de destruir armas ou a coragem de Diesel que padeceu para evitar que outros inocentes tivessem o mesmo destino de Hélène.

quarta-feira, novembro 18, 2015

Ensaio sobre a cegueira

Artigo de opinião no Diário Económico de 17/11/2015:

Os disparos verbais foram imediatos e mantêm-se nos dias subsequentes aos atentados de Paris. Dissemina-se a teoria do medo e tenta-se, ao máximo, generaliza-la. 
Por cá, o que há de novo são as velhas opiniões cegas sobre os povos que por motivos ideológicos, religiosos ou por mero vestuário destoam do nosso status quo. São manifestações dos extremistas contra muçulmanos; é a questão dos refugiados que põem em risco o “nosso” país e que vêm para nos matar com as suas bombas presas à cintura. 
A resposta está à vista com o recurso à força e à violência. O que Portugal e os mais cegos não esperavam era que um dos homens-bomba de Paris, terrorista frio e impiedoso, fosse luso-descendente. 
E aqui está a verdadeira novidade. Será que, daqui em diante, vamos todos pensar bem antes de abrir a boca? Ou será que vamos manter a cegueira, ignorando que a mãe do Ismael é portuguesa, e destacando o pai que é Argelino?

segunda-feira, novembro 09, 2015

A teoria das teorias

Sim, o comércio externo da China contraiu em Outubro. Sim, o mercado quer agora acreditar - é para isso que apontam as probabilidades - que a FED vai subir juros, pela primeira vez em quase 10 anos, já em Dezembro e que o BCE pode aumentar os estímulos à Zona Euro. Sim, saíram previsões da OCDE que deixaram a malta em alerta. E todos estes factores, juntos e misturados, criaram pressões sobre os mercados. A esta longa equação juntou-se outro aspecto: o caminho da independência da Catalunha. Mas há um ponto que não é verdadeiro: que foram estes factores que transformaram os mercados nacionais, hoje, num vasto manto de vermelho carregado.

A bolsa afundou mais de quatro por cento, com o sector da banca - o mais avesso e exposto à incerteza - a ser completamente fustigado com perdas de quase 10 por cento! Não vale a pena criarmos ilusões porque a equação é simples: incerteza = pressões. Não estou a falar do partido que governa porque também não é para isso que olham os investidores que nos emprestam dinheiro e investem no país e nas nossas empresas. Refiro-me à incerteza pura e dura. E neste ponto, este acordo bilateral do PS com BE e do PS com o PCP há-de confrontar-se com decisões em que não haverá maioria parlamentar - basta que o BE, por exemplo, apoie e o PCP não! Ou vice-versa. Para que haja maioria parlamentar, num governo minoritário socialista, é preciso que haja, sempre, o apoio dos três partidos.

Aquilo que a bolsa hoje expressou, em simultâneo com o mercado secundário de dívida, foi que não concorda com um meio acordo. Querem um acordo total e têm medo que, perante a incerteza, o país pare.
Quanto ao resto, não interessa se é do PS ou do PSD. E não há! Não há um acordo transversal. Daí que os juros sobre a dívida portuguesa a 10 anos tenham ultrapassado hoje os 2,9 por cento, o valor mais alto em quatro meses. E aqui podemos, todos, agradecer ao facto do BCE estar no mercado para não termos assistido a uma pressão vendedora ainda maior. Hoje, pelos motivos que enumerei no início deste texto, os juros das dívidas periféricas também subiram. Mas nada que se compare com as yield sobre a dívida nacional. Portugal voltou hoje a pagar mais de 2% do que a Alemanha para emitir dívida a 10 anos (no mercado secundário); mais 1% do que Itália.

Só esta segunda-feira evaporaram-se do PSI20 qualquer coisa como dois mil milhões de euros. Esqueçam a teoria do papão dos mercados e deixem as teorias de lado porque os números que estão neste texto são factuais.

quinta-feira, outubro 22, 2015

A culpa é da arbitragem do Presidente

O Presidente da República fez aquilo que há 40 anos se aplica em Portugal - apesar da Constituição ser mais abrangente - após eleições legislativas: o partido que tem mais votos forma governo. Foi o que aconteceu, no passado mais ou menos longínquo, com Soares, Guterres e Sócrates. Isto se pensarmos, apenas, nos governos socialistas. 

O que é que distingue então estes exemplos da actual coligação PàF? Se quisermos simplificar: os partidos da Esquerda uniram-se para fazer cair a Coligação PàF e depois logo se vê. Logo se vê porque não há medidas (oficiais) conhecidas. 
Fala-se de acordos mas ninguém os conhece. E ao contrário do que habitualmente é válido na política, aqui o que parece - haver um acordo PS+BE+PCP - não é! Não será pelo menos até ser oficializado.

Aqui chegados importa olhar para o título deste texto. É inacreditável a forma como se destrata - e aqui refiro-me à figura do Presidente de República e não concretamente a Cavaco Silva - a decisão  e o próprio Chefe de Estado. No mínimo, podemos dizer que é pouco cordial afirmar-se, como fez Catarina Martins, que o discurso de Cavaco "mais do que um discurso de partido é um discurso de seita!".

Se as eleições fossem um jogo de futebol, e utilizando a linguagem da bola, os partidos da Esquerda venceram o jogo, mas graças ao árbitro, que aceitou os golos em fora de jogo. No final dos descontos, foi afinal a PàF que levou a melhor.

O que aí vem são certamente tempos de instabilidade governativa. O primeiro teste - depois dos últimos 18 dias - para António Costa será a aprovação do Presidente da Assembleia da República. Se conseguir vencer essa batalha, vai tentar, juntamente com o BE e PCP, fazer cair o governo. Resta saber o que virá depois. A ter em conta as palavras do Presidente da República, o que nos espera - a todos - poderá ser um governo de gestão liderado pelo PSD e CDS-PP.

domingo, outubro 18, 2015

Até que os muros nos separem

Artigo publicado no E+ do Diário Económico de sexta-feira, 16 de Outubro 2015:

Actualmente há, em todo o Mundo, 65 muros que dividem países. O objectivo é controlar os migrantes e evitar a entrada de terroristas. Mas há outra realidade associada: até 2018, a Indústria da Segurança Nacional de todo o Mundo deve valer 480 mil milhões de euros.

Para quem não sabe o que é um muro ou qual a sua utilidade, aqui fica uma breve definição que é facilmente encontrada no site do dicionário online Priberam: Obra (geralmente de alvenaria) que separa terrenos contíguos ou que forma cerca. Resguardo, defesa.

No mundo estão actualmente em construção ou já prontos 65 muros. Percebeu bem: 65! A 9 de Novembro de 1989, quando caiu o muro de Berlim, e com ele a Cortina de Ferro e a União Soviética, havia 16. O que é que mudou? Terá sido a segurança - ou a falta dela! -, ou estará esta nova realidade também relacionada com oportunidades de mercado? Diria que ambas as hipóteses estão correctas.

Por um lado, temos uma transição de força entre terroristas, com o ISIS - ou Estado Islâmico como é conhecido - a destacar-se em relação a uma Al Qaeda de quem se ouve falar, felizmente, cada vez menos. No entanto, há outra questão. Um analista, especializado em fundos de investimento, dizia-me durante uma entrevista, que os fundos expostos a acções de empresas de segurança estão a ter rendibilidades muito significativas, o que é corroborado pelos números que vão sendo conhecidos. Senão vejamos: o mercado da segurança nacional a nível mundial deverá valer, em 2018, qualquer coisa como 480 mil milhões de euros. A cidade de San Antonio, no estado norte-americano do Texas, recebe em Abril do próximo ano a Border Security Expo - uma espécie de Expo da segurança fronteiriça. E não é por acaso que são os EUA a organizar a décima edição do evento. A maior economia do Mundo é simultaneamente um dos países que mais investem no sector.

O Departamento da Defesa norte-americano tinha um orçamento, para 2014, de mais de quatro mil milhões de euros só em segurança cibernética. É, por isso, simples percebermos que a indústria da Segurança é quem mais tem a ganhar com a... insegurança. A questão que se deve colocar é se muros como os que já existem a separar, novamente, países cumprem a sua função. Será que, por exemplo, a barreira que separa a Tunísia da Líbia - construída após o massacre de Junho - impede a entrada de terroristas? Vai a política do arame farpado entre a Bulgária e a Turquia ou entre a Hungria e a Sérvia obstruir a entrada/passagem de migrantes que fogem à guerra? A resposta é não! Pelo menos, não totalmente.

O que é que resulta daqui? O regresso a um mapa retalhado, preenchido por cortinas de arame farpado e betão, com militares armados e dedos no gatilho. São autênticos monumentos a céu aberto.
A Comissão Europeia, com um intuito alegadamente mais construtivo, vai despender, pelo menos, oito milhões de euros no financiamento à investigação em segurança das fronteiras externas. O objectivo? Identificar e prevenir o tráfico de seres humanos e a migração ilegal. A este montante juntam-se mais 27 milhões direccionados às novas tecnologias que servirão para prevenir o crime e o terrorismo e ainda 15 milhões de euros destinados à investigação sobre a origem e o impacto dos fluxos migratórios na Europa. Tudo somado: 50 milhões de euros.

Há quem chame a estas barreiras os muros das lamentações. Diria, sem qualquer simbolismo religioso, que são essencialmente muros a lamentar.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Democracia é isto! Custe o que custar...

Durante a campanha eleitoral, António Costa - que teria teoricamente a seu favor a conjuntura - pediu a maioria absoluta. No desfecho das eleições legislativas não só não conseguiu a maioria absoluta como nem sequer venceu! Nem por "poucochinho". E não é tudo. Vai ter de sujeitar-se, ou então demitir-se, a acordos com a Coligação constituída pelo PSD e CDS-PP.
Para já, o ainda líder do PS rejeita qualquer cenário de demissão. Mais: deu-se ao desplante de sair do Hotel Altis - a sede do PS sempre que há eleições - como se tivesse vencido algo. É verdade - e irrevogável - que a Coligação perdeu (muitos) votos. Mas é igualmente verdade que quatro anos depois de um pedido de resgate e de muitas exigências, o actual Governo conseguiu ser reeleito! Foi o primeiro a conseguir o feito em toda a Europa.
António Costa não esteve bem ao não aceitar a Democracia, e a sua  magnitude. Não pediu a demissão e, com isso, fragilizou o Partido Socialista.
Da noite eleitoral retenho os seguintes factos: Catarina Martins angariou votos com mérito; o PCP perdeu votos com demérito de Jerónimo de Sousa que deveria estar de saída, mas decidiu salientar a derrota da "maioria de Direita"; António Costa e o PS deveriam repensar o futuro de forma séria e coerente; a Coligação PàF consegue uma vitória inédita em toda a Europa, embora sem maioria absoluta!
Dito isto, entramos numa fase que eu sempre defendi e que pressupõe um consenso alargado para que sejam tomadas medidas estruturais!

terça-feira, setembro 29, 2015

A minha panela de escape

Comecemos pelas consequências daquele que é já visto como o maior escândalo não-financeiro nos Estados Unidos. Em apenas uma semana , as acções do grupo Volkswagen - que chegaram a cotar nos 250 dólares em Março deste ano - passaram de 132 dólares para menos de 100! A Suíça, primeiro, e depois a Bélgica, os Estados Unidos e agora Espanha deram ordens para suspender os veículos com o logótipo do grupo alemão. O Fundo Soberano do Qatar perdeu 12 mil milhões de dólares e a Porsche, que é uma das marcas da Volkswagen AG, 10 mil milhões. Só no dia 21 - após assumir a manipulação das emissões dos motores 2.0 a diesel - as acções do construtor automóvel encerraram a perder 23% na bolsa alemã, ou seja, qualquer coisa como 14 mil milhões de euros. Esclarecido?

Olhemos agora para o "evento" em si que é aquilo que tem feito mexer (entenda-se, afundar) os mercados. Mais do que manipular os níveis de gases emitidos pelos veículos do grupo com a motorização em causa, o problema maior é o da confiança. Não interessa se os carros Volkswagen, Seat, Skoda ou da Audi poluem mais um grama ou dois do que era suposto. Até porque nos EUA os níveis de medição destas emissões variam quase de Estado para Estado. E nem vale a pena falar na guerra, antiga e implícita, entre construtores norte-americanos - peritos nos muscle cars a gasolina - e os europeus que são especializados no diesel.

A questão centra-se no engano. E porquê? Porque a marca tem um valor associado; tem um grau de qualidade que lhe foi atribuído, ao longo dos anos, pelo mercado. Criou-se confiança em torno de uma marca que nos defraudou a todos. E o futuro não se avizinha fácil para o construtor automóvel que terá de não só restaurar a confiança como encontrar uma alternativa para ficar mais amigo - e desta vez a sério - do ambiente. É provável que, pelo meio, se descubram mais fraudes de outras marcas.

Se fosse o senso comum a reinar, quase que poderíamos dizer que NINGUÉM cumpre totalmente as normas. Mas quando falamos de gigantes como a Volkswagen, não há espaço para o senso comum. Como também não haverá senso comum no impacto que os produtos Made in Germany sofrerão com este escândalo e, a outro nível, o PIB alemão, o maior da Europa e um motor importante no processo de recuperação da Zona Euro.

sábado, setembro 05, 2015

Vai uma pizza com extra queijo?

Já se percebeu que as legislativas deste ano vão ser acompanhadas massivamente - e com todo o sentido literal - de um circo mediático. E este "circo" não se aplica apenas a este episódio. São cada vez mais comuns "directos" e "reportagens" deste género. Será que em tempo de crise vale quase tudo? Parece-me mais do que evidente que o tipo de notícias e a forma como muitas vezes são retratados os casos confirmam a tendência sensacionalista da cobertura. Basta olhar para a última noite e para os directos que decorreram à (nova) porta de José Sócrates.

Pelo que vi, não se disse nada de novo. Repetiu-se, até à exaustão, o processo; as decisões, o que aí pode vir. Até aí tudo bem! Mas o momento "tcharam" da noite estava reservado para o rapaz de entregas da Telepizza que chegou com uma encomenda. Não sabia para quem e isso também não se lhe exigia. O que se seguiu foi um momento de puro jornalismo CULINÁRIO: perguntaram - sim, os jornalistas que lá estavam (ou pelo menos um deles)! - quais os componentes da dita pizza. O que se seguiu foi simplesmente indescritível.

O momento jornalístico terminou com outra bela notícia: o rapaz das pizzas não pôde entregar a encomenda porque não trazia cartão do cidadão e a polícia que guarda a porta de Sócrates não permitiu que entrasse.

Não sei se as audiências - que são o oxigénio económico-financeiro dos meios - corresponderam ao nível jornalístico deste evento específico. Espero que não. Mas "cheira-me" que vamos ter mais momentos extra queijo no próximo mês.

terça-feira, agosto 04, 2015

Loukanikos: o cão que soube unir os gregos

No Diário Económico de 31/07/2015:

O mundo conheceu-o através dos meios de comunicação social que o fotografaram, filmaram e só não fizeram entrevistas porque a linguagem corporal de Loukanikos - "salsicha" em grego - escusava de traduções ou argumentos. Mesmo que não saiba quem foi este rafeiro dourado, conhece-o, de certeza, de fotografias.

As primeiras aparições públicas do "cão anarquista", "cão manifestante" ou simplesmente "camarada canino", como era carinhosamente chamado pelos protestantes, aconteceram ainda em 2008, antes mesmo do primeiro pedido de resgate da Grécia. Mas foi a partir de 2010, e do primeiro pedido de ajuda financeira de Atenas, que Loukanikos ganhou a fama de "resistente" que, à semelhança do povo, não se vergava às exigências externas ou à crise. Aparecia em todas as manifestações que enchiam as ruas e era comum vê-lo entre as bombas de gás lacrimogénio arremessadas pela polícia para dispersar a multidão.

Perde-se a conta às fotografias que mostram o canino em acção, quer seja a enfrentar os escudos da polícia, a meros centímetros de distância; a correr de um lado para o outro, intranquilo, porque os tempos eram de agitação e de crise, quer até a ser escorraçado pelas autoridades helénicas. Em algumas, vislumbra-se o animal a descansar - provavelmente depois de terminada a missão para esse dia.

Em comum, Loukanikos e a crise grega tinham a resistência. O primeiro, perdeu-a em Maio de 2014, mas o anúncio oficial foi feito a 10 de Setembro. O canino grego mais famoso do Mundo não aguentou um ataque cardíaco, enquanto dormia. Tinha 10 anos e, pelo menos, seis de luta pública pela democracia e por melhores condições na Grécia. Estava "aposentado" há dois, uma retirada que coincidiu, em 2012, com o aliviar das tensões após concretizado o segundo resgate ao país. Ninguém sabe ao certo o que é que provocou os problemas cardíacos do Salsicha, embora haja quem especule que foi a exposição contínua ao gás lacrimogénio.

O sucesso deste lutador tornou-se de tal forma viral que, em 2011, foi nomeado para Animal do Ano pela revista Time. Não venceu porque foi preterido por outro cão, norte-americano, que acompanhou o grupo de SEAL que eliminou Osama bin Laden. Inspirou até o cantor norte-americano David Rovics na música ‘Riot Dog'. Tinha - ainda existe - uma página no Facebook (www.facebook.com/pages/Loukanikos/125246147492819ok.com /pages/Loukanikos/125246 147492819). O último post - eram sempre escritos na primeira pessoa - é de 1 de Setembro de 2014. A página de Loukanikos tem mais de 45.600 ‘likes'. O rafeiro partilhava as suas aventuras também através de um blogue, o Rebel Dog (http://rebeldog.tumblr.com/).

A sua morte correu o mundo noticioso, com especial relevo nas redes sociais. No entanto, foi em vida que Loukanikos se destacou: "Ele exemplificava, de alguma maneira, a inquietação dos gregos que se recusam a vergar-se", explicava a responsável pelo canil de Atenas em 2014. Uma pesquisa rápida pelo Google, mostra que há 162 mil resultados associados à palavra Loukanikos. As imagens são indescritíveis pelo realismo que retratam, mas nomeadamente pela luta desigual entre o "peludo" e as forças da autoridade.

As imagens das manifestações com Loukanikos não são, em nada, diferentes daquelas a que voltamos a assistir no âmbito do terceiro resgate à Grécia. Ao contrário desta lenda grega, a crise no país continua a resistir: as últimas previsões apontam para uma recessão de 4% este ano; o desemprego não baixa e ronda os 26% e agora luta-se contra o tempo para que não faltem bens de primeira necessidade à população, assim como aos companheiros de Loukanikos. É que no único jardim zoológico de Atenas chegou a lutar-se por alimentos para os seus animais.

Durante os anos em que deambulou pelas ruas de Atenas, Loukanikos combateu a polícia, batendo-se contra a crise. Foi o rosto de um povo ensanguentado pela faca económica e financeira. Nunca desistiu e é recordado por isso. Na altura em que começaram os protestos, já não era um cão de rua, ao contrário do que se chegou a pensar. Acompanhava o dono que o tinha adoptado uns anos antes. Os gregos não esqueceram o cão manifestante, de pelo dourado, que teve o dom de unir um povo sob um mesmo propósito de contestação. Uma das imagens mais bonitas do reconhecimento helénico é um grafito com a imagem do Salsicha onde se lê "todos os cães vão para o céu".

segunda-feira, agosto 03, 2015

Passos, Portas e Costa: os três Mosqueteiros

O artigo de hoje no Diário Económico:

A bandeira das eleições legislativas de Outubro bem podia ser "um por todose todos por um", mas vai ser dois contra um, um contra dois ou, quem sabe, todos contra todos.

A questão de fundo é, no entanto, outra. Para lá dos programas que as partes apresentaram, com mais ou menos críticas ao passado e ambições para o futuro, o importante é que se defina uma estratégia conjunta. Nos discursos, só se pedem maiorias; de consenso, ninguém quer saber! As sondagens - cada vez mais falíveis - mostram que a maioria será atribuída à abstenção. 

Os eleitores não votam porque não acreditam nestes "mosqueteiros". Mas, mais importante, os portugueses já perceberam - mesmo sem lerem Alexandre Dumas - que um país dividido, sem consensos estruturantes, e com ataques constantes de parte a parte é como um romance sem a história de amor pelo meio. Não é romance, nem vive, porque a história se repete no mau sentido. O país vai a votos. E o futuro fica, uma vez mais, para as calendas?

São pobres e não se queixam

ARTIGO PUBLICADO NO DIÁRIO ECONÓMICO DE 31 DE JULHO 2015:

O maior problema supera a dimensão física. Acumulam-se os casos em que se esvaiu a dignidade por falta de dinheiro para comida.

Deixemos de lado os grandes e principais centros urbanos do país. Viajemos até ao interior, às regiões mais rurais e, por norma, mais pobres de Portugal.

Nos últimos anos, a crise deixou a cru a pobreza de muitos. Perderam o trabalho, o carro e a casa. A história repetiu-se tantas vezes que já todos a conhecem. O maior problema, no entanto, ultrapassa a dimensão física. Acumulam-se os casos em que se esvaiu a dignidade por falta de dinheiro para comida. Nas situações mais graves, não há sequer vontade de fazer um movimento simples como abrir a porta de casa. São pessoas estigmatizadas pela crise, que precisam de apoio. Têm défices acumulados que ultrapassam a realidade económico-financeira.

É a estas pessoas que a Segurança Social, um dos braços da Economia Social, se tem dedicado mais. São novos, idosos, homens e mulheres. São crianças cujos pais sofrem com o excesso de escassez. Mas estar dedicado não significa, necessariamente, fazer um bom trabalho. Para quem conhece estas realidades, sabe o papel que assume a "Dra./Dr. da Segurança Social". É assim que são conhecidos os assistentes sociais nos locais mais recônditos do país. São eles os intermediários entre o Estado Social e aqueles que dele precisam, literalmente como de pão para a boca. Contudo, aquilo que deveria ser uma plataforma de ligação e apoio transforma-se, por vezes, numa espécie de perseguição ao pobrezinho.

Não vale a pena pensarmos que tudo é mau. Há casos de sucesso e de reintegração bem-sucedidos. O próprio Estado tornou-se mais eficiente na selecção de quem deve receber apoios sociais. Daí que os dados do primeiro semestre do ano da Segurança Social revelem que o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção e do Complemento Solidário para Idosos caiu em 46 mil no intervalo de um ano. Mais rigor? É provável! Menos dinheiro disponível para ajudar? Ainda mais provável.

Dizer a alguém que perdeu - por questões diversas - a dignidade, o emprego e a vontade de sair de casa, que venda o pouco que tem - e muitas vezes sem grande valor em tempos de crise - não é sensato em momentos de depressão. Ou dizer-se a quem já paga rendas baixas - em casas onde moraram durante quase toda a vida - que encontrem rendas ainda mais baixas, esquecendo a ligação que têm ao espaço, é algo frio e terrível. Serão estes os intermediários que todos nós queremos para prestar uma ajuda tão essencial?

Há quem receba, apenas, algumas dezenas de euros do Estado sem se queixar. Mesmo que sejam 100 euros para sobreviver durante um mês e que esse valor esteja muito abaixo daquilo que alguns conhecem como limiar da pobreza. O que não lhes podem fazer é lembrar que são pobres, estigmatizando-os com a ideia de piedade. Ninguém quer esta pintura. O Estado Social não é piedade e os assistentes sociais não são uma espécie de guardiões dos pobrezinhos do Estado. 

A Economia não são só números. Daí que estes "senhores doutores", pelo poder que lhes é dado, devam saber observar este quadro em toda a sua magnitude, não se centrando na figura que aparece destacada por entre a paisagem.

segunda-feira, julho 06, 2015

Varoufakis: o motard em fuga

Yanis Varoufakis prometeu que se o Sim vencesse o referendo deste domingo na Grécia iria demitir-se do cargo de ministro das Fianças do país. O Não venceu por larga maioria, mas ainda assim Varoufakis saiu. Porquê? Segundo o próprio, para facilitar as negociações com os parceiros europeus. Politicamente, enganou os eleitores gregos. Não deveria ter saído após ter vencido a batalha do referendo. Fê-lo depois de acusar o FMI de terrorismo e de, por muitas vezes, ter criticado as instituições europeias. 

Apesar de não concordar com muito do que defendeu nestes seis meses, parece-me que deveria ter-se mantido no cargo até deixar o barco grego na direcção certa - pelo menos segundo a visão do governo de Atenas. Ao sair fez-me lembrar aqueles manifestantes que atiram o cocktail molotov para a montra de uma loja e fogem logo a seguir.

P.S - Além de Varoufakis, também Antonis Samaras, o líder da oposição e ex-primeiro-ministro, se demitiu. Parece-me que a solução grega passa, cada vez mais, por um governo de unidade nacional. Será?

terça-feira, junho 30, 2015

Grécia, o bebé birrento!

Apesar de ainda não ser pai, tenho alguns "sobrinhos". É por isso que, quando olho para cada - e já são muitas! -, proposta do governo grego me lembro dos meus "sobrinhos".

Quem já não se viu atrasado para sair de casa para trabalhar ou simplesmente para ir jantar a qualquer lado porque a criança lá de casa cismou que não queria ir? Ou que preferia ver o que estava a dar na televisão? Ou que não ia porque sim?

A Grécia, qual criança birrenta, tem sugerido de tudo: mais um mês; defaults; haircuts; extensão até novembro; um terceiro resgate, através do Mecanismo Europeu de Estabilidade, por dois anos... E a lista nunca mais termina. E porquê? Porque querem fazer o que lhes apetece. E quando digo querem refiro-me ao governo e não ao povo grego!

É por estas e por outras que o executivo do senhor Tsipras tem perdido tempo e credibilidade - e eu até lhe dei alguma quando assumiu o poder - nos últimos seis meses! Vai chegar a algum lado esta birrice? Sinceramente não sei! Mas se tivesse de usar o bluff grego, diria que não!

Entretanto - e como diria o nosso Primeiro-ministro - quem se lixa é o "mexilhão". Ou seja, o povo grego que não consegue levantar o dinheiro que pretende; que não tem trabalho; que não conseguiu desviar o seu dinheiro - se o tivesse - para fora do país antes de se chegar a esta situação. E já agora, também a própria economia grega que, à partida para todo este "teatro", já estava toda esmifradinha.

Pergunto: alguém acha mesmo que os "pais" deste bebé birrento grego o vão deixar sozinho em casa só porque ele não quer sair e prefere ver o canal Panda? Ou que vão chamar a ama Moscovo para ficar com ele? Nahh...!

sábado, junho 20, 2015

A mulher do Tsipras é que sabe!

Não vou gastar muito tempo nos pormenores - ou pormaiores! - que todos conhecem da economia grega. Vou apenas enumerar alguns: 

- 20% do PIB desapareceu em cinco anos;
- desemprego em quase 27% no primeiro trimestre do ano; 
- emigração a crescer, como consequência da pobreza; 
- banca em pré-bancarrota, sendo as causas mais evidentes o incumprimento nos pagamentos dos clientes (superior a 24%) e os levantamentos massivos de depósitos nos últimos meses (30 mil milhões de euros desde Outubro de 2014). 
A situação do sistema financeiro helénico é tão grave que os especialistas já denominam o sector de "bomba-relógio" e ninguém sabe se os principais bancos vão abrir portas na segunda-feira.
- provável limitação/fecho da circulação de capitais (públicos, mas também os privados).

A falta de acordo entre o governo de Alexis Tsipras e os parceiros europeus só agravou os dados acima enunciados. De bom, este impasse de quase cinco meses não teve nada. Ou melhor, teve para a mulher do primeiro-ministro grego!

Pelos vistos, Betty Baziana, a primeira dama, terá dito ao marido que se conseguisse um "mau acordo" para a Grécia - entenda-se, controlar as contas públicas e arranjar dinheiro para pagar as dívidas - iria divorciar-se. É isso mesmo!

Não sei se será por causa da mulher, mas a verdade é que na Grécia, de acordo, nada! Em cinco meses parece estar a perder-se algum do trabalho feito - parte importante - nos últimos cinco anos.

Será que Tsipras pretende continuar casado - deixando o navio grego afundar-se - ou será que aquilo que Betty Baziana realmente quer é deixar o marido e está a usar esta "desculpa" para grego ver?

Se é este o caso, poderia ter-nos poupado - e principalmente ao povo grego que está numa agonia cada vez mais sufocante - muito tempo e trabalho. Lá diz o ditado: entre marido e mulher ninguém mete a colher... Nem mesmo os credores da Grécia.


quarta-feira, junho 17, 2015

A sede de dólares de Angola

Artigo de hoje no Diário Económico:

O mesmo petróleo que ajudou a economia angolana a tornar-se uma potência dos dólares é agora um poço cujo fundo está longe de ser encontrado.

O governo de Luanda faz o que pode e é por isso que Eduardo dos Santos foi à China na última semana, em mais uma visita oficial, para pedir dinheiro.

Em Pequim, as necessidades angolanas não podiam vir em melhor altura. O país, que quer esconder o arrefecimento económico, vai aproveitar para exportar o excedente agrícola e fazer ainda mais negócios, como é o caso da construção. 

Num reflexo da crise, os táxis "candongueiros", que transportam a maioria da população angolana, aumentaram 50%; a gasolina não pára de subir; faltam dólares no país e nos cartões de crédito. As construtoras portuguesas desesperam pelos pagamentos, enquanto as lojas da Avenida da Liberdade, em Lisboa, vão olhando para o relógio à espera que regressem os clientes. Chegou a época do "cacimbo". Resta saber quanto tempo vai durar esta seca.

sexta-feira, maio 22, 2015

Conte até 3 e não respire

O meu artigo desta semana no Diário Económico:

O número 3 tem uma elevada carga simbólica. O mesmo é dizer que está associado à união, ao equilíbrio e à perfeição.

Basta lembrar que são três os poderes ligados à democracia – jurídico, executivo e legislativo. Em Portugal, o 3 foi, nos últimos anos, sinónimo de ‘troika’: os 3 elementos do FMI, BCE e Comissão Europeia que impuseram esforços e, como refere a oposição ao Governo, “deixaram o país mais pobre”.

O que escapa aos portugueses é que temos tido outra ‘troika’, desde que vivemos em democracia. Refiro-me ao PSD, PS e CDS-PP. Têm sido estes três partidos a decidirem o nosso destino. Mas sem saberem contar até 3. E isso tem-nos saído muito caro porque os interesses de cada partido têm sido confundidos com os interesses da nação! A psicologia explica que a chegada de um filho obriga o casal a implementar novas regras e hábitos. Ensina-o a contar até 3.

Será que também os partidos do arco da governação podem, finalmente, esquecer as quezílias e aprender a contar até 3? É pura aritmética.

quarta-feira, maio 20, 2015

A beleza da novidade: -0,002%

Que Portugal se ia financiar, mais cedo ou mais tarde, a taxas negativas no mercado primário (onde ocorrem os leilões de dívida) não era surpresa para ninguém. Era uma questão de tempo até que o sinal "-" surgisse numa emissão. Já tinha estado perto de acontecer, mas a (bela) novidade surgiu hoje - quarta-feira, 20 de Maio de 2015.

O IGCP, que gere a dívida pública portuguesa, emitiu 300 milhões de euros a seis meses com uma taxa negativa - a primeira de sempre - de -0,002%. E porquê? Desde logo porque houve muita procura por parte dos investidores, o que deu outro poder de negociação. Mais importante: porque o BCE continua de armas e bagagens no mercado e compra basicamente tudo o que lhe aparece à frente, como é o caso da dívida nacional. E não digo isto de forma pejorativa. Acontece com com os leilões portugueses da mesma forma que ocorre com os dos restantes países periféricos da Zona Euro, excepto com a Grécia. Basta lembrar que a Alemanha e Espanha já pagaram juros negativos antes de Portugal.

O aspecto positivo (para Portugal!) do leilão de hoje é que em Novembro, quando tiver de pagar aos credores, o IGCP vai pagar menos do que o montante emitido hoje (daí a taxa negativa). O que nos leva a uma questão, no mínimo, curiosa: Mas o que é que leva os investidores a comprarem dívida e a perderem dinheiro? Ou dito de outra forma, por que é que Portugal vai entregar menos dinheiro do que aquele que recebeu dos investidores? 

  1. Uma das explicações está no próprio modus operandi do mercado de dívida. Isto é, muitos investidores compram agora, mesmo que a taxas negativas, porque não vão manter a dívida comprada até à maturidade. Compram agora para vender amanhã, ou daqui a uns meses. E acreditam que o vão conseguir fazer a um preço superior àquele a que compraram no leilão.
  2. Outra questão diz respeito à "falta de activos" onde investir. Escasseiam alternativas aos grandes brancos, fundos de investimento e seguradoras. Estes são, por norma, investimentos mais conservadores.
  3. Uma outra explicação, não menos importante, é a baixa inflação ou a ausência dela - como mostram os últimos dados para a Zona Euro.

Dito isto, é importante a estabilidade do mercado de dívida e do risco sobre Portugal. O país financia-se hoje a juros muitos mais baixos do que há apenas um ano; poupa nas emissões; gere melhor os calendários; e tem a seu lado o BCE que é (também) o seu anjo protector.

domingo, maio 10, 2015

TrAPalhadas

Terminaram os 10 dias de greve dos pilotos da TAP. Ou melhor, terminou a paralisação de ALGUNS dos pilotos. Pode dizer-se que esses ficaram duplamente paralisados: por um lado, porque não voaram e, por outro, porque afinal os efeitos da greve ficaram muito aquém do desejado. Mas não sem antes provocar - como escrevi recentemente - fracturas profundas.

Foi-se a (pouca) confiança na companhia aérea que dificilmente se recupera. E quando o fizerem terá passado tempo. Muito tempo! Um turista francês dizia, naturalmente aborrecido por ficar em terra quando o intuito era o de voar, que "a TAP é deplorável". Este é um dos danos colaterais desta greve: todos são tomados por igual. Dito de outra forma, é como se TODOS - e não é verdade! - tivessem aderido à paralisação. Mas TODOS perdem: a empresa, os trabalhadores e o país.

A segunda maior greve da história dos pilotos da TAP terminou com uma média de 30% de voos cancelados diariamente, o que significa que todos os dias - e em alguns estes números foram superados - realizaram-se mais de 70 por cento dos voos.

O sindicato (SPAC), através do seu presidente, foi o actor principal de um enredo sem história e com momentos de puro terrorismo, como o dos "prejuízos de 30 milhões de euros que infligimos à TAP". Ainda assim, e se é que há algo de positivo nisto, os prejuízos ficaram bem aquém dos 70 milhões inicialmente projectados. Mas repito: provocaram-se fracturas profundas que podem provocar danos também no processo de privatização. No final desta semana, vamos ficar a saber quantas propostas foram entregues ao governo.

Agora, os mesmos pilotos que - e isto são factos - deixaram a TAP num estado de saúde ainda mais crítico, ponderam avançar com nova greve. Estão no seu direito. No entanto, a questão que se deve colocar é racional avançarem com nova paralisação nos tempos de correm, mesmo beneficiando desse direito consagrado na constituição.

Winston Churchill disse a certa altura da sua vida que "fanático é o sujeito que não muda de ideia e não pode mudar de assunto". Será que ainda é possível mudarmos de assunto?

quarta-feira, maio 06, 2015

Mercados à parte...



Sou jornalista económico. Não sou economista, investidor ou especulador de mercado. Mas lido, diariamente, com os mercados financeiros. Enquanto jornalista aprendo, apreendo e tento - é esse o meu dever - explicar aos telespectadores o que são e como funcionam. 

Falar de Mercados Financeiros é tão abrangente como enumerar todas as cidades ou localidades do globo. É preciso método, estudo e a ajuda preciosa daqueles que - esses sim! - gerem diária e directamente vários tipos de activos. São eles os comentadores do Fecho de Contas e do Bull & Bear que me/nos ajudam a melhor compreender o mundo da alta finança: as cotações; os altos e baixos dos índices; as aquisições e fusões e os colapsos. Juntos, tentamos perceber até os comportamentos mais irracionais do mercado. Até esses merecem uma explicação. 

Como explicou um dia Bill Miller, antigo ‘chairman' e CIO da Legg Mason Capital Management, "como os espelhos dos parques de diversões nem sempre reflectem correctamente o nosso peso, também os mercados nem sempre reflectem de forma correcta as informações".

Fazer notícias económico-financeiras é isto mesmo. É não deixar que os "exageros" do mercado, das decisões, dos negócios afectem a análise, que se pressupõe racional. É isso que faço no Fecho de Contas e no Bull & Bear.

Em estúdio não nos propomos cumprir a regra de ouro de Waren Buffett: "nunca perca dinheiro". Preferimos ter a nossa própria regra: analisar o mundo económico e financeiro sem tendências mas aceitando que há dias em que temos de os enfrentar: o Bull e o Bear, entenda-se.

Texto publicado hoje no Diário Económico, no âmbito dos 5 anos do ETV.



sábado, abril 25, 2015

"A via da responsabilidade"

Uma coisa é certa: a apresentação do conjunto de medidas e do cenário macroeconómico do PS obrigaram o PSD e o CDS/PP a acelerarem as negociações e avançarem com a coligação pré-eleitoral às legislativas. O que não é necessariamente mau!

Os dois partidos - e respectivos líderes - já estavam em negociações há várias semanas e já se sabia, há mais ou menos oito dias, que estava praticamente tudo fechado. Faltava só conhecer a "base de cálculo" para a atribuição de lugares políticos que, sabe-se agora, serão os resultados do PSD e CDS/PP nas legislativas de 2011 (neste capítulo, o CDS levou a melhor sobre o PSD).

O segredo - importante neste tipo de anúncios - estava na data: o 25 de Abril, dia simbólico que representa a liberdade e a mudança em Portugal... Um segredo que, pelos vistos, foi muito bem guardado.

A novidade da noite parece-me, no entanto,  o anúncio da abertura a independentes. Ou seja, os dois partidos vão coligados mas querem - em caso de vitória nas legislativas - um governo e uma maioria estáveis e estão disponíveis para integrarem os tais independentes. Uma alusão ao que aconteceu em 1979 quando a Aliança Democrática de Sá Carneiro saiu reforçada com os chamados "reformadores" (dissidentes do PS).

Os dois partidos vão coligados às legislativas pela terceira vez na história da política nacional. Dirão os mais descrentes que, ambos os líderes políticos já sabiam, de antemão, o que ia dizer o Presidente da República neste 25 de Abril. Isto é, que são "necessários compromissos interpartidários (...) para cumprir com os objectivos que o futuro nos coloca".

Mas olhemos para as declarações desta apresentação surpresa da coligação. Em comum, tiveram as críticas às políticas do passado que, para Passos e Portas, endividaram o país e levaram ao pedido de resgate. Paulo Portas destacou o "interesse de Portugal" e de "futuro", depois de ter recebido - o governo! - "a casa a arder". Para o futuro - e esta é, sem dúvida, uma reacção ao cenário macroeconómico socialista - o objectivo passa por recuperar "o poder de compra, gradual mas firmemente", assim como "eliminar a sobretaxa de IRS e reduzir o emprego jovem".

Do lado de Passos, o discurso foi afinado (sem supresa!) pelo mesmo diapasão. O Presidente do PSD destacou a "estabilidade" da coligação "apesar das diferenças"; criticou o passado socialista e olhou, também, para o futuro: "Há muitas feridas para sarar. Há muito a fazer pela coesão social. Portugal não enfrentará, felizmente nos próximos anos, dificuldades como as que tivemos"

Num aspecto - certamente terá noutros - Passos tem razão. Os juros baixos, o petróleo mais barato, o plano Juncker e os fundos comunitários não duram para sempre e, por isso, há que aproveitá-los rapidamente. É aquilo que Passos denomina de “A via da responsabilidade”.


quarta-feira, abril 22, 2015

Cenário político: todos perdem!

Cartoon de Rodrigo de Matos
Permitam-me que comece este texto por traçar uma analogia entre a política nacional e o futebol.
Ainda esta quarta-feira criticava, numa tentativa construtiva, os portugueses que se felicitavam e gozavam com a derrota (pesada!) do FC Porto em Munique para a Liga dos Campeões. O que defendi e defendo é que somos todos portugueses e que, por isso, devemos pôr esse tipo de clubismos de parte. Pelo menos, nestes casos!

Fechado o parênteses, olhemos então para as semelhanças com os políticos nacionais. Comecemos pelo recém-apresentado Cenário Macroeconómico - com medidas incluídas - do Partido Socialista. Terá virtudes - como o objectivo do crescimento; da criação do emprego; do "encher os bolsos" como alguns defendem. Mas terá também defeitos - desde logo a questão de não especificar quanto é que os cofres públicos vão receber para compensar as perdas, garantidas, de receita fiscal de muitas das medidas agora anunciadas. Parece-me óbvio que, mesmo um documento elaborado por especialistas, não é perfeito ou incólume a críticas.

O que não se compreende - e daí a analogia com o futebol - é que estes "clubismos" políticos nunca ou raramente consigam alcançar um consenso alargado. Defendem, por norma, o supremo interesse nacional. Todavia, na prática, percebe-se que esse interesse é o dos partidos e não o do país. Vejamos apenas um exemplo simples (também ele do futebol): a trasladação de Eusébio para o panteão - antes do tempo mínimo previsto na lei - obriga, precisamente, a uma mudança legal. Por este motivo - e não questiono as qualidades da lenda do futebol português - os partidos estão dispostos a um consenso alargado. Contudo, quando se fala de questões mais estruturantes, aí a questão muda de cor e entram os tais "clubismos" em campo.

O governo PSD/CDS também teve/tem aspectos positivos. A começar pela coragem demonstrada em algumas das medidas implementadas; pela luta/tentativa em equilibrar as contas públicas - o que de resto serve de base de partida para este programa socialista agora mais ambicioso e direcionado para o emprego e crescimento económico.

Por que não um consenso alargado a 10, 20 anos em Portugal? Ou até mais? É melhor andarem os políticos a avançar com medidas nuns anos que são depois desfeitas por outros nos anos seguintes? É esse o verdadeiro interesse do país? 

No final, será que o país - porque deve ser esse o supremo interesse dos governantes - fica a ganhar? 
Será que não é possível encontrar um consenso transversal da Esquerda à Direita? Ou da Direita à Esquerda? 
A realidade mostra que não é possível e que, no final, todos perdem!
É caso para dizer: país 0 - políticos 1.

quarta-feira, abril 15, 2015

A Natalidade não se fomenta por decreto

Façamos o exercício de pôr de parte todo e qualquer tipo de ideologia política. Conseguiu?
Olhemos então para a questão da Natalidade de forma pura e neutral como ela deve ser analisada.
Quando alguém pensa em ser pai ou mãe, fá-lo - acredito eu - de forma racional e em consciência. Isto é, tem em conta a sua situação familiar, profissional, mas também financeira. Não há quem o não faça sem qualquer tipo de expectativas. E é por isso que estar a fomentar a natalidade por decreto não funciona. Por muito bem intencionadas que sejam as medidas propostas por TODOS os partidos políticos, este não é um capítulo que se muda através de um mero clique.

No dia a dia, as famílias fazem contas. Como é que um casal pensa, por exemplo, em ter o primeiro filho se o seu trabalho é precário; se tem um ou ambos os pais, ainda activos, sem trabalho ou em situações financeiras difíceis? Com créditos para pagar? Haverá quem defenda que um filho não depende, apenas, de questões financeiras. É verdade! Mas concordarão comigo no capítulo das contas: há vários anos que os filhos (estou a generalizar) deixaram de ser uma fonte de receita para serem uma fonte de despesa e nem aquela máxima do "onde comem dois comem três ou quatro" se aplica nos dias que correm.

Há colégios, alimentação, saúde, vestuário que são conseguidos como? Com dinheiro! O amor não paga contas. O amor pode servir de gatilho para contribuir para a natalidade. No entanto, enfrenta depois, a dura realidade do dia a dia e, no caso concreto, da situação portuguesa.

Estes três parágrafos servem apenas para tentar explicar que sem uma economia em crescimento; que contribua para a criação de emprego; que permita aos pais ou futuros pais terem tempo de qualidade para passar com os seus filhos; que melhore a expectativa das pessoas; que proporcione rendimentos familiares suficientes para fazer face às despesas e pensarem em ter filhos... Sem estes (e certamente, muitos outros aspectos!), estar a tentar fomentar a Natalidade por decreto é o mesmo que tentar uma inseminação artificial quando a mulher não está no seu período fértil: pode resultar em alguns casos, mas na maioria deles será um falhanço.

segunda-feira, abril 13, 2015

Simples não é sinónimo de "low cost"!

Este texto poderia começar por qualquer coisa deste género: caros leitores (que têm veículos movidos a combustível) não abasteçam os vossos veículos até à próxima quinta-feira porque as chamadas "gasolineiras de marca" vão passar a comercializar combustíveis simples, isto é, "low cost". Errado!

A medida insere-se na lei publicada a 16 de Janeiro deste ano e que impõe que todos os postos de combustível - em Portugal Continental - disponibilizem combustíveis simples, uma decisão que as gasolineiras garantem que vão cumprir. Só não divulgaram, ainda, os preços que vão praticar. E é aqui que o cliente começa a desconfiar.

Em boa verdade, os preços destes combustíveis simples não será idêntico à dos chamados combustíveis "low cost" das grandes superfícies comerciais. Ou seja, gasolina e gasóleo sem aditivos não significa preços "low cost"!

Daí que a Apetro - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas -, que representa a Galp, BP, Repsol e Cepsa, tenha já alertado os jornalistas para esse facto. Em comunicado - e com recurso a um texto publicado originalmente em dezembro de 2014 - a associação explica que "Começou-se a designar por combustíveis “low cost” os que eram comercializados por hipermercados e outros retalhistas que normalmente operam sem a bandeira das Companhias Petrolíferas. Trata-se de produtos simples, isto é, sem qualquer tipo de aditivos melhoradores das suas características básicas, que fazem parte da oferta de comercializadores que optaram por um conceito “low cost”. São vendidos a preços normalmente inferiores, aos preços praticados pelos operadores cujo conceito se baseia na diferenciação dos seus produtos e serviços, isto é, pelo valor da marca. E aqui, reside toda a diferença!"

O mesmo texto explica ainda o porquê das diferenças de preços. Na prática, está tudo no modelo de negócio que distingue as petrolíferas das grandes superfícies comerciais, que não têm no posto de abastecimento o seu único ou principal negócio: "Como se compreende pelo exposto, é o somatório das economias obtidas nos custos de exploração de um posto de abastecimento "low cost", associado ao seu elevado volume de vendas, que permite uma redução significativa dos custos de operação. Não é possível pois, nos postos de abastecimento convencionais, conseguir reduções do Preço de Venda ao Público semelhantes aos apresentados pelos "low cost", através da venda de combustíveis simples, isto é, alterando apenas um dos fatores de redução de custos - o produto e, mesmo este, marginalmente.", refere a Apetro.

Feita a explicação, o melhor é não esperar grandes descontos nos preços das principais gasolineiras a operar em Portugal. Os preços deverão ser ligeiramente mais baixos do que os dos combustíveis com aditivos. No entanto, não espere que sejam idênticos às das gasolineiras low cost.

O importante é que perceba que combustíveis simples não são combustíveis "low cost".

quinta-feira, abril 09, 2015

À falta dela... falemos dela!

me·ri·to·cra·ci·a 
(mérito + -cracia)
substantivo feminino
1. [Sociologia Forma de liderança que se baseia no méritonas capacidades e nas realizações alcançadasem detrimento da posição social.


"meritocracia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/meritocracia [consultado em 09-04-2015].

O DIA NOS MERCADOS - Quinta-feira

ETV

quarta-feira, abril 08, 2015

A Crise e o Trabalho

"Uma nação em crise não precisa de plano. Precisa de homens." ( Eugénio Gudin )

É curioso que tantas vezes, tantas pessoas, se esqueçam de tanta coisa. Esquecem-se de elementos fundamentais como as pessoas, a sua motivação, as suas aspirações.
Esquecem-se que, como diz Bernardinho (um autor brasileiro certamente desconhecido de muitos de nós) a "Disciplina não é somente impor e seguir regras rígidas. É, sobretudo, obter o envolvimento de todos numa mesma dinâmica de trabalho."

No trabalho, como na vida, há evolução. E evolução pressupõe desenvolvimento. Ora, em tempo de crise o desenvolvimento é mais difícil e, por vezes, impossível. O que não invalida que chefes, directores, administradores, gestores e outros tantos se esqueçam dos trabalhadores (que são seus parceiros e colegas) e das suas necessidades.

Há objectivos a atingir, desafios a ultrapassar e, acima de tudo, é crucial que tudo decorra em harmonia e cooperação. Esta parte, pelos menos, é perceptível!

É triste ver, numa altura de crise como a actual, “aspirantes a ditadores” a tentarem impor condições ridículas, condutas no mínimo estranhas e impensáveis. É igualmente triste perceber que são esses pequenos “adolfos” ou “benitos” que pretendem levar o país para frente e ultrapassar a crise.

Falo da realidade portuguesa que - por acaso - é transversal a muitos sectores, a diversas empresas e atinge uma enormidade de portugueses que querem, como qualquer pessoa consciente, uma situação melhor para o país e para si.

É bom saber que somos competentes e que temos quem reconheça o nosso trabalho.
Tudo parece fácil quando somos "abraçados" pelos colegas.
O dia passa mais rápido. O trabalho corre melhor. O corpo ressente-se menos.

* Artigo escrito em 2008.

O DIA NOS MERCADOS - Quarta-feira

ETV

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quinta-feira, abril 02, 2015

Não nos façam o funeral

António Costa assinou hoje, quinta-feira 2 de Abril, o último artigo de opinião enquanto Director do Económico. Disse Adeus como muitos outros o fizeram antes dele - neste e noutros meios de comunicação social - e como muitos o farão no futuro. Não saiu por entre uma autêntica "debandada" como muitos apregoam. Fê-lo em consciência. Mas mais importante do que os que saem são os que ficam. E são muitos os que ignoram as debandadas, as fugas, o que lhe quiserem chamar. São jornalistas, técnicos, assistentes, paginadores... que diariamente lutam e fazem o melhor que sabem para manter o prestígio da marca Económico.

A tarefa não é fácil e, por vezes, (vezes demais!) é ingrata. É preciso gerirem-se expectativas; motivar colegas e subordinados. Dizer-lhes que a crise não é exclusiva do Económico. Nem tão-pouco dos meios de comunicação social. Aquilo que choca não são os títulos dos artigos. É antes a forma como nos descrevem, como falam de um grupo (Ongoing) e esquecem os profissionais - de qualidade - que o constituem. Refiro-me aos que diariamente partilham a redacção do Económico e os estúdios do ETV. São muitos; são dedicados; são profissionais e, acima de tudo, são pessoas!

Saiu um director, mas ficam outros. Da mesma forma que a marca Económico - tal como outras - se foi alterando ao longo dos 25 anos de existência, também outras seguiram o mesmo caminho. Não é o fim. Pode ser o princípio de um novo caminho. Einstein dizia que é nas dificuldades que se encontram oportunidades. O económico terá defeitos mas também tem muitas qualidades, tal como os seus concorrentes.

O que não se aceita - que eu não aceito enquanto jornalista "desta casa" é que nos julguem todos por igual, sem direito a defesa. Que nos telefonem a pedir que confirmemos a saída de um director e que nos peçam pormenores sobre "a crise e a debandada" sem nos questionarem - muitos deles são meus/nossos amigos - se está tudo bem connosco; se o nosso cargo na empresa está em risco...

Posso estar enganado. Não sou dono da verdade absoluta e/ou universal. Sei, no entanto, uma coisa: no Económico, com ou sem debandada, continuam muitos profissionais competentes e dedicados que diariamente dão o seu máximo e fazem o melhor que sabem para informar, com qualidade, os seus leitores e telespectadores.

Dito isto, não nos façam o funeral. É feio. Ainda estamos vivos.