Uma coisa é certa: a apresentação do conjunto de medidas e do cenário macroeconómico do PS obrigaram o PSD e o CDS/PP a acelerarem as negociações e avançarem com a coligação pré-eleitoral às legislativas. O que não é necessariamente mau!
Os dois partidos - e respectivos líderes - já estavam em negociações há várias semanas e já se sabia, há mais ou menos oito dias, que estava praticamente tudo fechado. Faltava só conhecer a "base de cálculo" para a atribuição de lugares políticos que, sabe-se agora, serão os resultados do PSD e CDS/PP nas legislativas de 2011 (neste capítulo, o CDS levou a melhor sobre o PSD).
O segredo - importante neste tipo de anúncios - estava na data: o 25 de Abril, dia simbólico que representa a liberdade e a mudança em Portugal... Um segredo que, pelos vistos, foi muito bem guardado.
A novidade da noite parece-me, no entanto, o anúncio da abertura a independentes. Ou seja, os dois partidos vão coligados mas querem - em caso de vitória nas legislativas - um governo e uma maioria estáveis e estão disponíveis para integrarem os tais independentes. Uma alusão ao que aconteceu em 1979 quando a Aliança Democrática de Sá Carneiro saiu reforçada com os chamados "reformadores" (dissidentes do PS).
Os dois partidos vão coligados às legislativas pela terceira vez na história da política nacional. Dirão os mais descrentes que, ambos os líderes políticos já sabiam, de antemão, o que ia dizer o Presidente da República neste 25 de Abril. Isto é, que são "necessários compromissos interpartidários (...) para cumprir com os objectivos que o futuro nos coloca".
Mas olhemos para as declarações desta apresentação surpresa da coligação. Em comum, tiveram as críticas às políticas do passado que, para Passos e Portas, endividaram o país e levaram ao pedido de resgate. Paulo Portas destacou o "interesse de Portugal" e de "futuro", depois de ter recebido - o governo! - "a casa a arder". Para o futuro - e esta é, sem dúvida, uma reacção ao cenário macroeconómico socialista - o objectivo passa por recuperar "o poder de compra, gradual mas firmemente", assim como "eliminar a sobretaxa de IRS e reduzir o emprego jovem".
Do lado de Passos, o discurso foi afinado (sem supresa!) pelo mesmo diapasão. O Presidente do PSD destacou a "estabilidade" da coligação "apesar das diferenças"; criticou o passado socialista e olhou, também, para o futuro: "Há muitas feridas para sarar. Há muito a fazer pela coesão social. Portugal não enfrentará, felizmente nos próximos anos, dificuldades como as que tivemos".
Num aspecto - certamente terá noutros - Passos tem razão. Os juros baixos, o petróleo mais barato, o plano Juncker e os fundos comunitários não duram para sempre e, por isso, há que aproveitá-los rapidamente. É aquilo que Passos denomina de “A
via da responsabilidade”.
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