sábado, abril 25, 2015

"A via da responsabilidade"

Uma coisa é certa: a apresentação do conjunto de medidas e do cenário macroeconómico do PS obrigaram o PSD e o CDS/PP a acelerarem as negociações e avançarem com a coligação pré-eleitoral às legislativas. O que não é necessariamente mau!

Os dois partidos - e respectivos líderes - já estavam em negociações há várias semanas e já se sabia, há mais ou menos oito dias, que estava praticamente tudo fechado. Faltava só conhecer a "base de cálculo" para a atribuição de lugares políticos que, sabe-se agora, serão os resultados do PSD e CDS/PP nas legislativas de 2011 (neste capítulo, o CDS levou a melhor sobre o PSD).

O segredo - importante neste tipo de anúncios - estava na data: o 25 de Abril, dia simbólico que representa a liberdade e a mudança em Portugal... Um segredo que, pelos vistos, foi muito bem guardado.

A novidade da noite parece-me, no entanto,  o anúncio da abertura a independentes. Ou seja, os dois partidos vão coligados mas querem - em caso de vitória nas legislativas - um governo e uma maioria estáveis e estão disponíveis para integrarem os tais independentes. Uma alusão ao que aconteceu em 1979 quando a Aliança Democrática de Sá Carneiro saiu reforçada com os chamados "reformadores" (dissidentes do PS).

Os dois partidos vão coligados às legislativas pela terceira vez na história da política nacional. Dirão os mais descrentes que, ambos os líderes políticos já sabiam, de antemão, o que ia dizer o Presidente da República neste 25 de Abril. Isto é, que são "necessários compromissos interpartidários (...) para cumprir com os objectivos que o futuro nos coloca".

Mas olhemos para as declarações desta apresentação surpresa da coligação. Em comum, tiveram as críticas às políticas do passado que, para Passos e Portas, endividaram o país e levaram ao pedido de resgate. Paulo Portas destacou o "interesse de Portugal" e de "futuro", depois de ter recebido - o governo! - "a casa a arder". Para o futuro - e esta é, sem dúvida, uma reacção ao cenário macroeconómico socialista - o objectivo passa por recuperar "o poder de compra, gradual mas firmemente", assim como "eliminar a sobretaxa de IRS e reduzir o emprego jovem".

Do lado de Passos, o discurso foi afinado (sem supresa!) pelo mesmo diapasão. O Presidente do PSD destacou a "estabilidade" da coligação "apesar das diferenças"; criticou o passado socialista e olhou, também, para o futuro: "Há muitas feridas para sarar. Há muito a fazer pela coesão social. Portugal não enfrentará, felizmente nos próximos anos, dificuldades como as que tivemos"

Num aspecto - certamente terá noutros - Passos tem razão. Os juros baixos, o petróleo mais barato, o plano Juncker e os fundos comunitários não duram para sempre e, por isso, há que aproveitá-los rapidamente. É aquilo que Passos denomina de “A via da responsabilidade”.


quarta-feira, abril 22, 2015

Cenário político: todos perdem!

Cartoon de Rodrigo de Matos
Permitam-me que comece este texto por traçar uma analogia entre a política nacional e o futebol.
Ainda esta quarta-feira criticava, numa tentativa construtiva, os portugueses que se felicitavam e gozavam com a derrota (pesada!) do FC Porto em Munique para a Liga dos Campeões. O que defendi e defendo é que somos todos portugueses e que, por isso, devemos pôr esse tipo de clubismos de parte. Pelo menos, nestes casos!

Fechado o parênteses, olhemos então para as semelhanças com os políticos nacionais. Comecemos pelo recém-apresentado Cenário Macroeconómico - com medidas incluídas - do Partido Socialista. Terá virtudes - como o objectivo do crescimento; da criação do emprego; do "encher os bolsos" como alguns defendem. Mas terá também defeitos - desde logo a questão de não especificar quanto é que os cofres públicos vão receber para compensar as perdas, garantidas, de receita fiscal de muitas das medidas agora anunciadas. Parece-me óbvio que, mesmo um documento elaborado por especialistas, não é perfeito ou incólume a críticas.

O que não se compreende - e daí a analogia com o futebol - é que estes "clubismos" políticos nunca ou raramente consigam alcançar um consenso alargado. Defendem, por norma, o supremo interesse nacional. Todavia, na prática, percebe-se que esse interesse é o dos partidos e não o do país. Vejamos apenas um exemplo simples (também ele do futebol): a trasladação de Eusébio para o panteão - antes do tempo mínimo previsto na lei - obriga, precisamente, a uma mudança legal. Por este motivo - e não questiono as qualidades da lenda do futebol português - os partidos estão dispostos a um consenso alargado. Contudo, quando se fala de questões mais estruturantes, aí a questão muda de cor e entram os tais "clubismos" em campo.

O governo PSD/CDS também teve/tem aspectos positivos. A começar pela coragem demonstrada em algumas das medidas implementadas; pela luta/tentativa em equilibrar as contas públicas - o que de resto serve de base de partida para este programa socialista agora mais ambicioso e direcionado para o emprego e crescimento económico.

Por que não um consenso alargado a 10, 20 anos em Portugal? Ou até mais? É melhor andarem os políticos a avançar com medidas nuns anos que são depois desfeitas por outros nos anos seguintes? É esse o verdadeiro interesse do país? 

No final, será que o país - porque deve ser esse o supremo interesse dos governantes - fica a ganhar? 
Será que não é possível encontrar um consenso transversal da Esquerda à Direita? Ou da Direita à Esquerda? 
A realidade mostra que não é possível e que, no final, todos perdem!
É caso para dizer: país 0 - políticos 1.

quarta-feira, abril 15, 2015

A Natalidade não se fomenta por decreto

Façamos o exercício de pôr de parte todo e qualquer tipo de ideologia política. Conseguiu?
Olhemos então para a questão da Natalidade de forma pura e neutral como ela deve ser analisada.
Quando alguém pensa em ser pai ou mãe, fá-lo - acredito eu - de forma racional e em consciência. Isto é, tem em conta a sua situação familiar, profissional, mas também financeira. Não há quem o não faça sem qualquer tipo de expectativas. E é por isso que estar a fomentar a natalidade por decreto não funciona. Por muito bem intencionadas que sejam as medidas propostas por TODOS os partidos políticos, este não é um capítulo que se muda através de um mero clique.

No dia a dia, as famílias fazem contas. Como é que um casal pensa, por exemplo, em ter o primeiro filho se o seu trabalho é precário; se tem um ou ambos os pais, ainda activos, sem trabalho ou em situações financeiras difíceis? Com créditos para pagar? Haverá quem defenda que um filho não depende, apenas, de questões financeiras. É verdade! Mas concordarão comigo no capítulo das contas: há vários anos que os filhos (estou a generalizar) deixaram de ser uma fonte de receita para serem uma fonte de despesa e nem aquela máxima do "onde comem dois comem três ou quatro" se aplica nos dias que correm.

Há colégios, alimentação, saúde, vestuário que são conseguidos como? Com dinheiro! O amor não paga contas. O amor pode servir de gatilho para contribuir para a natalidade. No entanto, enfrenta depois, a dura realidade do dia a dia e, no caso concreto, da situação portuguesa.

Estes três parágrafos servem apenas para tentar explicar que sem uma economia em crescimento; que contribua para a criação de emprego; que permita aos pais ou futuros pais terem tempo de qualidade para passar com os seus filhos; que melhore a expectativa das pessoas; que proporcione rendimentos familiares suficientes para fazer face às despesas e pensarem em ter filhos... Sem estes (e certamente, muitos outros aspectos!), estar a tentar fomentar a Natalidade por decreto é o mesmo que tentar uma inseminação artificial quando a mulher não está no seu período fértil: pode resultar em alguns casos, mas na maioria deles será um falhanço.

segunda-feira, abril 13, 2015

Simples não é sinónimo de "low cost"!

Este texto poderia começar por qualquer coisa deste género: caros leitores (que têm veículos movidos a combustível) não abasteçam os vossos veículos até à próxima quinta-feira porque as chamadas "gasolineiras de marca" vão passar a comercializar combustíveis simples, isto é, "low cost". Errado!

A medida insere-se na lei publicada a 16 de Janeiro deste ano e que impõe que todos os postos de combustível - em Portugal Continental - disponibilizem combustíveis simples, uma decisão que as gasolineiras garantem que vão cumprir. Só não divulgaram, ainda, os preços que vão praticar. E é aqui que o cliente começa a desconfiar.

Em boa verdade, os preços destes combustíveis simples não será idêntico à dos chamados combustíveis "low cost" das grandes superfícies comerciais. Ou seja, gasolina e gasóleo sem aditivos não significa preços "low cost"!

Daí que a Apetro - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas -, que representa a Galp, BP, Repsol e Cepsa, tenha já alertado os jornalistas para esse facto. Em comunicado - e com recurso a um texto publicado originalmente em dezembro de 2014 - a associação explica que "Começou-se a designar por combustíveis “low cost” os que eram comercializados por hipermercados e outros retalhistas que normalmente operam sem a bandeira das Companhias Petrolíferas. Trata-se de produtos simples, isto é, sem qualquer tipo de aditivos melhoradores das suas características básicas, que fazem parte da oferta de comercializadores que optaram por um conceito “low cost”. São vendidos a preços normalmente inferiores, aos preços praticados pelos operadores cujo conceito se baseia na diferenciação dos seus produtos e serviços, isto é, pelo valor da marca. E aqui, reside toda a diferença!"

O mesmo texto explica ainda o porquê das diferenças de preços. Na prática, está tudo no modelo de negócio que distingue as petrolíferas das grandes superfícies comerciais, que não têm no posto de abastecimento o seu único ou principal negócio: "Como se compreende pelo exposto, é o somatório das economias obtidas nos custos de exploração de um posto de abastecimento "low cost", associado ao seu elevado volume de vendas, que permite uma redução significativa dos custos de operação. Não é possível pois, nos postos de abastecimento convencionais, conseguir reduções do Preço de Venda ao Público semelhantes aos apresentados pelos "low cost", através da venda de combustíveis simples, isto é, alterando apenas um dos fatores de redução de custos - o produto e, mesmo este, marginalmente.", refere a Apetro.

Feita a explicação, o melhor é não esperar grandes descontos nos preços das principais gasolineiras a operar em Portugal. Os preços deverão ser ligeiramente mais baixos do que os dos combustíveis com aditivos. No entanto, não espere que sejam idênticos às das gasolineiras low cost.

O importante é que perceba que combustíveis simples não são combustíveis "low cost".

quinta-feira, abril 09, 2015

À falta dela... falemos dela!

me·ri·to·cra·ci·a 
(mérito + -cracia)
substantivo feminino
1. [Sociologia Forma de liderança que se baseia no méritonas capacidades e nas realizações alcançadasem detrimento da posição social.


"meritocracia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/meritocracia [consultado em 09-04-2015].

O DIA NOS MERCADOS - Quinta-feira

ETV

quarta-feira, abril 08, 2015

A Crise e o Trabalho

"Uma nação em crise não precisa de plano. Precisa de homens." ( Eugénio Gudin )

É curioso que tantas vezes, tantas pessoas, se esqueçam de tanta coisa. Esquecem-se de elementos fundamentais como as pessoas, a sua motivação, as suas aspirações.
Esquecem-se que, como diz Bernardinho (um autor brasileiro certamente desconhecido de muitos de nós) a "Disciplina não é somente impor e seguir regras rígidas. É, sobretudo, obter o envolvimento de todos numa mesma dinâmica de trabalho."

No trabalho, como na vida, há evolução. E evolução pressupõe desenvolvimento. Ora, em tempo de crise o desenvolvimento é mais difícil e, por vezes, impossível. O que não invalida que chefes, directores, administradores, gestores e outros tantos se esqueçam dos trabalhadores (que são seus parceiros e colegas) e das suas necessidades.

Há objectivos a atingir, desafios a ultrapassar e, acima de tudo, é crucial que tudo decorra em harmonia e cooperação. Esta parte, pelos menos, é perceptível!

É triste ver, numa altura de crise como a actual, “aspirantes a ditadores” a tentarem impor condições ridículas, condutas no mínimo estranhas e impensáveis. É igualmente triste perceber que são esses pequenos “adolfos” ou “benitos” que pretendem levar o país para frente e ultrapassar a crise.

Falo da realidade portuguesa que - por acaso - é transversal a muitos sectores, a diversas empresas e atinge uma enormidade de portugueses que querem, como qualquer pessoa consciente, uma situação melhor para o país e para si.

É bom saber que somos competentes e que temos quem reconheça o nosso trabalho.
Tudo parece fácil quando somos "abraçados" pelos colegas.
O dia passa mais rápido. O trabalho corre melhor. O corpo ressente-se menos.

* Artigo escrito em 2008.

O DIA NOS MERCADOS - Quarta-feira

ETV

Back to work

quinta-feira, abril 02, 2015

Não nos façam o funeral

António Costa assinou hoje, quinta-feira 2 de Abril, o último artigo de opinião enquanto Director do Económico. Disse Adeus como muitos outros o fizeram antes dele - neste e noutros meios de comunicação social - e como muitos o farão no futuro. Não saiu por entre uma autêntica "debandada" como muitos apregoam. Fê-lo em consciência. Mas mais importante do que os que saem são os que ficam. E são muitos os que ignoram as debandadas, as fugas, o que lhe quiserem chamar. São jornalistas, técnicos, assistentes, paginadores... que diariamente lutam e fazem o melhor que sabem para manter o prestígio da marca Económico.

A tarefa não é fácil e, por vezes, (vezes demais!) é ingrata. É preciso gerirem-se expectativas; motivar colegas e subordinados. Dizer-lhes que a crise não é exclusiva do Económico. Nem tão-pouco dos meios de comunicação social. Aquilo que choca não são os títulos dos artigos. É antes a forma como nos descrevem, como falam de um grupo (Ongoing) e esquecem os profissionais - de qualidade - que o constituem. Refiro-me aos que diariamente partilham a redacção do Económico e os estúdios do ETV. São muitos; são dedicados; são profissionais e, acima de tudo, são pessoas!

Saiu um director, mas ficam outros. Da mesma forma que a marca Económico - tal como outras - se foi alterando ao longo dos 25 anos de existência, também outras seguiram o mesmo caminho. Não é o fim. Pode ser o princípio de um novo caminho. Einstein dizia que é nas dificuldades que se encontram oportunidades. O económico terá defeitos mas também tem muitas qualidades, tal como os seus concorrentes.

O que não se aceita - que eu não aceito enquanto jornalista "desta casa" é que nos julguem todos por igual, sem direito a defesa. Que nos telefonem a pedir que confirmemos a saída de um director e que nos peçam pormenores sobre "a crise e a debandada" sem nos questionarem - muitos deles são meus/nossos amigos - se está tudo bem connosco; se o nosso cargo na empresa está em risco...

Posso estar enganado. Não sou dono da verdade absoluta e/ou universal. Sei, no entanto, uma coisa: no Económico, com ou sem debandada, continuam muitos profissionais competentes e dedicados que diariamente dão o seu máximo e fazem o melhor que sabem para informar, com qualidade, os seus leitores e telespectadores.

Dito isto, não nos façam o funeral. É feio. Ainda estamos vivos.