terça-feira, setembro 29, 2015

A minha panela de escape

Comecemos pelas consequências daquele que é já visto como o maior escândalo não-financeiro nos Estados Unidos. Em apenas uma semana , as acções do grupo Volkswagen - que chegaram a cotar nos 250 dólares em Março deste ano - passaram de 132 dólares para menos de 100! A Suíça, primeiro, e depois a Bélgica, os Estados Unidos e agora Espanha deram ordens para suspender os veículos com o logótipo do grupo alemão. O Fundo Soberano do Qatar perdeu 12 mil milhões de dólares e a Porsche, que é uma das marcas da Volkswagen AG, 10 mil milhões. Só no dia 21 - após assumir a manipulação das emissões dos motores 2.0 a diesel - as acções do construtor automóvel encerraram a perder 23% na bolsa alemã, ou seja, qualquer coisa como 14 mil milhões de euros. Esclarecido?

Olhemos agora para o "evento" em si que é aquilo que tem feito mexer (entenda-se, afundar) os mercados. Mais do que manipular os níveis de gases emitidos pelos veículos do grupo com a motorização em causa, o problema maior é o da confiança. Não interessa se os carros Volkswagen, Seat, Skoda ou da Audi poluem mais um grama ou dois do que era suposto. Até porque nos EUA os níveis de medição destas emissões variam quase de Estado para Estado. E nem vale a pena falar na guerra, antiga e implícita, entre construtores norte-americanos - peritos nos muscle cars a gasolina - e os europeus que são especializados no diesel.

A questão centra-se no engano. E porquê? Porque a marca tem um valor associado; tem um grau de qualidade que lhe foi atribuído, ao longo dos anos, pelo mercado. Criou-se confiança em torno de uma marca que nos defraudou a todos. E o futuro não se avizinha fácil para o construtor automóvel que terá de não só restaurar a confiança como encontrar uma alternativa para ficar mais amigo - e desta vez a sério - do ambiente. É provável que, pelo meio, se descubram mais fraudes de outras marcas.

Se fosse o senso comum a reinar, quase que poderíamos dizer que NINGUÉM cumpre totalmente as normas. Mas quando falamos de gigantes como a Volkswagen, não há espaço para o senso comum. Como também não haverá senso comum no impacto que os produtos Made in Germany sofrerão com este escândalo e, a outro nível, o PIB alemão, o maior da Europa e um motor importante no processo de recuperação da Zona Euro.

sábado, setembro 05, 2015

Vai uma pizza com extra queijo?

Já se percebeu que as legislativas deste ano vão ser acompanhadas massivamente - e com todo o sentido literal - de um circo mediático. E este "circo" não se aplica apenas a este episódio. São cada vez mais comuns "directos" e "reportagens" deste género. Será que em tempo de crise vale quase tudo? Parece-me mais do que evidente que o tipo de notícias e a forma como muitas vezes são retratados os casos confirmam a tendência sensacionalista da cobertura. Basta olhar para a última noite e para os directos que decorreram à (nova) porta de José Sócrates.

Pelo que vi, não se disse nada de novo. Repetiu-se, até à exaustão, o processo; as decisões, o que aí pode vir. Até aí tudo bem! Mas o momento "tcharam" da noite estava reservado para o rapaz de entregas da Telepizza que chegou com uma encomenda. Não sabia para quem e isso também não se lhe exigia. O que se seguiu foi um momento de puro jornalismo CULINÁRIO: perguntaram - sim, os jornalistas que lá estavam (ou pelo menos um deles)! - quais os componentes da dita pizza. O que se seguiu foi simplesmente indescritível.

O momento jornalístico terminou com outra bela notícia: o rapaz das pizzas não pôde entregar a encomenda porque não trazia cartão do cidadão e a polícia que guarda a porta de Sócrates não permitiu que entrasse.

Não sei se as audiências - que são o oxigénio económico-financeiro dos meios - corresponderam ao nível jornalístico deste evento específico. Espero que não. Mas "cheira-me" que vamos ter mais momentos extra queijo no próximo mês.