Comecemos pelas consequências daquele que é já visto como o maior escândalo não-financeiro nos Estados Unidos. Em apenas uma semana , as acções do grupo Volkswagen - que chegaram a cotar nos 250 dólares em Março deste ano - passaram de 132 dólares para menos de 100! A Suíça, primeiro, e depois a Bélgica, os Estados Unidos e agora Espanha deram ordens para suspender os veículos com o logótipo do grupo alemão. O Fundo Soberano do Qatar perdeu 12 mil milhões de dólares e a Porsche, que é uma das marcas da Volkswagen AG, 10 mil milhões. Só no dia 21 - após assumir a manipulação das emissões dos motores 2.0 a diesel - as acções do construtor automóvel encerraram a perder 23% na bolsa alemã, ou seja, qualquer coisa como 14 mil milhões de euros. Esclarecido?
Olhemos agora para o "evento" em si que é aquilo que tem feito mexer (entenda-se, afundar) os mercados. Mais do que manipular os níveis de gases emitidos pelos veículos do grupo com a motorização em causa, o problema maior é o da confiança. Não interessa se os carros Volkswagen, Seat, Skoda ou da Audi poluem mais um grama ou dois do que era suposto. Até porque nos EUA os níveis de medição destas emissões variam quase de Estado para Estado. E nem vale a pena falar na guerra, antiga e implícita, entre construtores norte-americanos - peritos nos muscle cars a gasolina - e os europeus que são especializados no diesel.
A questão centra-se no engano. E porquê? Porque a marca tem um valor associado; tem um grau de qualidade que lhe foi atribuído, ao longo dos anos, pelo mercado. Criou-se confiança em torno de uma marca que nos defraudou a todos. E o futuro não se avizinha fácil para o construtor automóvel que terá de não só restaurar a confiança como encontrar uma alternativa para ficar mais amigo - e desta vez a sério - do ambiente. É provável que, pelo meio, se descubram mais fraudes de outras marcas.
Se fosse o senso comum a reinar, quase que poderíamos dizer que NINGUÉM cumpre totalmente as normas. Mas quando falamos de gigantes como a Volkswagen, não há espaço para o senso comum. Como também não haverá senso comum no impacto que os produtos Made in Germany sofrerão com este escândalo e, a outro nível, o PIB alemão, o maior da Europa e um motor importante no processo de recuperação da Zona Euro.
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