segunda-feira, abril 30, 2007

Fábrica de Currículos

O caso UNI, para além de ter materializado a primeira nódoa negra na imaculada prestação do nosso Primeiro, chamou a atenção do país para outra realidade: o ensino privado em Portugal. Na década de 90 proliferaram pelo país verdadeiras "fábricas de currículos", aproveitando a liberalização do ensino superior privado. Ao Estado coube o papel de regulador na formação destas universidades, tarefa que incluiu a aprovação dos planos curriculares dos diversos cursos ministrados e a fiscalização de todos os certificados de habilitações emitidos. Assim está definido por lei.

Rudemente, podemos considerar a evolução do ensino privado português disforme, isto porque se por um lado temos universidades de créditos firmados como a Católica, por exemplo, por outro pairam pelo país peculiares organizações de ensino, cuja fiabilidade ninguém pode garantir. Com propinas que chegam aos 400€ mensais, são um acesso “fácil” ao El dorado da Educação e, sem grandes dificuldades, qualquer transeunte pode intitular-se de universitário, com muitos euros pelo meio, claro. Ora esta situação originou uma crescente onda de desconfiança em relação ao ensino que lá se ministrava, o que não impediu essas organizações com fins lucrativos de continuarem a crescer. Basta recordar o mau exemplo dado plas Universidades Aberta e Moderna.

O caso UNI prova que há motivo para suspeitar na actividade destas instiutições. O exame de american english (o inglês usado por Sócrates e que não corresponde à disciplina à qual foi avaliado – Inglês Técnico) enviado por e-mail a partir de casa e, como se não bastasse, com uma nota que está longe de ser a adequada à capacidade do aluno vem, no mínimo, deixar mais algumas dúvidas quanto à veracidade dos certificados de habilitações das "privadas". Os danos colaterais são inevitáveis e muitas instituições respeitáveis vão ser afectadas por este clima de desconfiança. Factos como secretarias a funcionar ao Domingo e trabalhos impressos em folhas com carimbos governamentais são actos inaceitáveis em instituições que se dizem de utilidade pública.

Falta de Moral

Quanto ao aluno José Sócrates, causa especial perplexidade a falta de ética do hoje primeiro-ministro. É regra comummente definida que os trabalhos para avaliação devem ser entregues numa folha onde, para além do nome do aluno, apenas pode constar, obviamente, a respostas às perguntas. O selo do ministério do ambiente é desnecessário e reprovável. Quanto à intencionalidade do acto só Sócrates pode responder, ficando as considerações pessoais para cada um de nós. Mais do que perguntas, os portugueses querem respostas de Mariano Gago, ministro da Ciência e do Ensino Superior e responsável máximo pela fiscalização das universidades privadas. Enquanto isso a "fama" das universidades particulares vai crescendo, dando razão às entidades empregadores que, salvo excepções que confirmam a regra, continuam a preferir os alunos provenientes do ensino superior público. Vá-se lá saber porquê!