domingo, outubro 18, 2015

Até que os muros nos separem

Artigo publicado no E+ do Diário Económico de sexta-feira, 16 de Outubro 2015:

Actualmente há, em todo o Mundo, 65 muros que dividem países. O objectivo é controlar os migrantes e evitar a entrada de terroristas. Mas há outra realidade associada: até 2018, a Indústria da Segurança Nacional de todo o Mundo deve valer 480 mil milhões de euros.

Para quem não sabe o que é um muro ou qual a sua utilidade, aqui fica uma breve definição que é facilmente encontrada no site do dicionário online Priberam: Obra (geralmente de alvenaria) que separa terrenos contíguos ou que forma cerca. Resguardo, defesa.

No mundo estão actualmente em construção ou já prontos 65 muros. Percebeu bem: 65! A 9 de Novembro de 1989, quando caiu o muro de Berlim, e com ele a Cortina de Ferro e a União Soviética, havia 16. O que é que mudou? Terá sido a segurança - ou a falta dela! -, ou estará esta nova realidade também relacionada com oportunidades de mercado? Diria que ambas as hipóteses estão correctas.

Por um lado, temos uma transição de força entre terroristas, com o ISIS - ou Estado Islâmico como é conhecido - a destacar-se em relação a uma Al Qaeda de quem se ouve falar, felizmente, cada vez menos. No entanto, há outra questão. Um analista, especializado em fundos de investimento, dizia-me durante uma entrevista, que os fundos expostos a acções de empresas de segurança estão a ter rendibilidades muito significativas, o que é corroborado pelos números que vão sendo conhecidos. Senão vejamos: o mercado da segurança nacional a nível mundial deverá valer, em 2018, qualquer coisa como 480 mil milhões de euros. A cidade de San Antonio, no estado norte-americano do Texas, recebe em Abril do próximo ano a Border Security Expo - uma espécie de Expo da segurança fronteiriça. E não é por acaso que são os EUA a organizar a décima edição do evento. A maior economia do Mundo é simultaneamente um dos países que mais investem no sector.

O Departamento da Defesa norte-americano tinha um orçamento, para 2014, de mais de quatro mil milhões de euros só em segurança cibernética. É, por isso, simples percebermos que a indústria da Segurança é quem mais tem a ganhar com a... insegurança. A questão que se deve colocar é se muros como os que já existem a separar, novamente, países cumprem a sua função. Será que, por exemplo, a barreira que separa a Tunísia da Líbia - construída após o massacre de Junho - impede a entrada de terroristas? Vai a política do arame farpado entre a Bulgária e a Turquia ou entre a Hungria e a Sérvia obstruir a entrada/passagem de migrantes que fogem à guerra? A resposta é não! Pelo menos, não totalmente.

O que é que resulta daqui? O regresso a um mapa retalhado, preenchido por cortinas de arame farpado e betão, com militares armados e dedos no gatilho. São autênticos monumentos a céu aberto.
A Comissão Europeia, com um intuito alegadamente mais construtivo, vai despender, pelo menos, oito milhões de euros no financiamento à investigação em segurança das fronteiras externas. O objectivo? Identificar e prevenir o tráfico de seres humanos e a migração ilegal. A este montante juntam-se mais 27 milhões direccionados às novas tecnologias que servirão para prevenir o crime e o terrorismo e ainda 15 milhões de euros destinados à investigação sobre a origem e o impacto dos fluxos migratórios na Europa. Tudo somado: 50 milhões de euros.

Há quem chame a estas barreiras os muros das lamentações. Diria, sem qualquer simbolismo religioso, que são essencialmente muros a lamentar.

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