Que Portugal se ia financiar, mais cedo ou mais tarde, a taxas negativas no mercado primário (onde ocorrem os leilões de dívida) não era surpresa para ninguém. Era uma questão de tempo até que o sinal "-" surgisse numa emissão. Já tinha estado perto de acontecer, mas a (bela) novidade surgiu hoje - quarta-feira, 20 de Maio de 2015.
O IGCP, que gere a dívida pública portuguesa, emitiu 300 milhões de euros a seis meses com uma taxa negativa - a primeira de sempre - de -0,002%. E porquê? Desde logo porque houve muita procura por parte dos investidores, o que deu outro poder de negociação. Mais importante: porque o BCE continua de armas e bagagens no mercado e compra basicamente tudo o que lhe aparece à frente, como é o caso da dívida nacional. E não digo isto de forma pejorativa. Acontece com com os leilões portugueses da mesma forma que ocorre com os dos restantes países periféricos da Zona Euro, excepto com a Grécia. Basta lembrar que a Alemanha e Espanha já pagaram juros negativos antes de Portugal.
O aspecto positivo (para Portugal!) do leilão de hoje é que em Novembro, quando tiver de pagar aos credores, o IGCP vai pagar menos do que o montante emitido hoje (daí a taxa negativa). O que nos leva a uma questão, no mínimo, curiosa: Mas o que é que leva os investidores a comprarem dívida e a perderem dinheiro? Ou dito de outra forma, por que é que Portugal vai entregar menos dinheiro do que aquele que recebeu dos investidores?
- Uma das explicações está no próprio modus operandi do mercado de dívida. Isto é, muitos investidores compram agora, mesmo que a taxas negativas, porque não vão manter a dívida comprada até à maturidade. Compram agora para vender amanhã, ou daqui a uns meses. E acreditam que o vão conseguir fazer a um preço superior àquele a que compraram no leilão.
- Outra questão diz respeito à "falta de activos" onde investir. Escasseiam alternativas aos grandes brancos, fundos de investimento e seguradoras. Estes são, por norma, investimentos mais conservadores.
- Uma outra explicação, não menos importante, é a baixa inflação ou a ausência dela - como mostram os últimos dados para a Zona Euro.
Dito isto, é importante a estabilidade do mercado de dívida e do risco sobre Portugal. O país financia-se hoje a juros muitos mais baixos do que há apenas um ano; poupa nas emissões; gere melhor os calendários; e tem a seu lado o BCE que é (também) o seu anjo protector.
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