Sim, o comércio externo da China contraiu em Outubro. Sim, o mercado quer agora acreditar - é para isso que apontam as probabilidades - que a FED vai subir juros, pela primeira vez em quase 10 anos, já em Dezembro e que o BCE pode aumentar os estímulos à Zona Euro. Sim, saíram previsões da OCDE que deixaram a malta em alerta. E todos estes factores, juntos e misturados, criaram pressões sobre os mercados. A esta longa equação juntou-se outro aspecto: o caminho da independência da Catalunha. Mas há um ponto que não é verdadeiro: que foram estes factores que transformaram os mercados nacionais, hoje, num vasto manto de vermelho carregado.
A bolsa afundou mais de quatro por cento, com o sector da banca - o mais avesso e exposto à incerteza - a ser completamente fustigado com perdas de quase 10 por cento! Não vale a pena criarmos ilusões porque a equação é simples: incerteza = pressões. Não estou a falar do partido que governa porque também não é para isso que olham os investidores que nos emprestam dinheiro e investem no país e nas nossas empresas. Refiro-me à incerteza pura e dura. E neste ponto, este acordo bilateral do PS com BE e do PS com o PCP há-de confrontar-se com decisões em que não haverá maioria parlamentar - basta que o BE, por exemplo, apoie e o PCP não! Ou vice-versa. Para que haja maioria parlamentar, num governo minoritário socialista, é preciso que haja, sempre, o apoio dos três partidos.
Aquilo que a bolsa hoje expressou, em simultâneo com o mercado secundário de dívida, foi que não concorda com um meio acordo. Querem um acordo total e têm medo que, perante a incerteza, o país pare.
Quanto ao resto, não interessa se é do PS ou do PSD. E não há! Não há um acordo transversal. Daí que os juros sobre a dívida portuguesa a 10 anos tenham ultrapassado hoje os 2,9 por cento, o valor mais alto em quatro meses. E aqui podemos, todos, agradecer ao facto do BCE estar no mercado para não termos assistido a uma pressão vendedora ainda maior. Hoje, pelos motivos que enumerei no início deste texto, os juros das dívidas periféricas também subiram. Mas nada que se compare com as yield sobre a dívida nacional. Portugal voltou hoje a pagar mais de 2% do que a Alemanha para emitir dívida a 10 anos (no mercado secundário); mais 1% do que Itália.
Só esta segunda-feira evaporaram-se do PSI20 qualquer coisa como dois mil milhões de euros. Esqueçam a teoria do papão dos mercados e deixem as teorias de lado porque os números que estão neste texto são factuais.
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