terça-feira, setembro 20, 2016

A minha teoria

Imagine que eu era um Empresário...
Se eu fosse Empresário garantiria - e isso é algo inquestionável (porque eu o digo!) - salários elevados para todos os meus trabalhadores, com todos os direitos legais e ainda bónus pelo seu desempenho. Trabalhariam apenas as horas necessárias - idealmente poucas porque seriam extremamente eficientes e eficazes - e aproveitariam o tempo restante para passarem com a família, amigos, a jogar futebol ou, simplesmente, a beberem umas cervejas.

Ao ser empresário, iria criar imensos empregos, auxiliando assim o meu país no controlo do desemprego que atinge tanta gente. E, sinceramente, em teoria não percebo como é que ou outros Doutores das Teorias (como eu) ainda não conseguiram resolver este problema cuja resolução é sobejamente conhecida: é só criar emprego, fazendo cair a taxa de desemprego! Dahhhh...

Voltando ao campo dos salários e dos prémios, os meus trabalhadores seriam aumentados independentemente do desempenho da empresa porque é importante dar poder de compra às pessoas para que ponham a circular, depois, esse dinheiro na economia real e, assim, o país ande para frente.

Pronto! Teoricamente estaria tudo resolvido. Depois bastava que outros empresários, também em teoria, reproduzissem o meu modelo de sucesso. Tenho apenas uma dúvida que me atazana o raciocínio e, consequentemente, a minha teoria: será que isto funciona na prática?

A verdade é que nunca fui empresário; nunca criei emprego; nunca passei da teoria à prática, o que me leva a concluir que, se calhar e ao contrário do que projectam muitos dos nossos teóricos, convém ter (alguma, pelo menos) experiência prática e não passar o dia agarrado à teoria como se de uma chupeta se tratasse. E os Políticos, aspirantes, revolucionários, contra-revolucionários ou outros...

É apenas a minha teoria, mas sei lá!

domingo, setembro 11, 2016

Acaba-se já com tudo?

Contarem-se vítimas mortais - ainda que militares - durante um curso é de evitar, da mesma forma que em qualquer outro curso ou profissão. É preciso não esquecer, todavia, que se tratavam de militares que, em teoria, são treinados (e vão!) para zonas de conflito onde, ainda em teoria, há armas e pessoas dispostas a matar e a morrer.

Não vale a pena perder-se tempo ou críticas a discutir o valor da vida porque esse é incalculável e inalienável. Mas vale a pena analisar-se, é o mínimo!, que mesmo que Portugal não esteja directamente envolvido num conflito armado há décadas, deve ter forças especiais. E porquê? O outro senhor dizia que a guerra se prepara em tempo de paz. Já para não falar no facto de o nosso país ser parte integrante de forças de segurança internacionais que participam em missões um pouco por todo o mundo, missões essas com as quais se pode ou não concordar.

O que é que não se compreende? Que um partido político como o Bloco de Esquerda peça, de imediato e sem saber o que provocou a morte dos militares, o fim dos Comandos. Não é o fim deste ou daquele curso em particular, mas da força em si! Devemos também pedir o fim das restantes forças militares? Ou talvez o fim do curso de Medicina, por exemplo, sempre que morre alguém porque não havia mais nada a fazer, por negligência ou, simplesmente, por burrice e falta de profissionalismo? Ou talvez porque alguém morreu porque estes profissionais não conseguiram encontrar uma cura para a sua doença...

Se a resposta é "não são precisos Comandos, ou outra força", então também podemos acabar com muitos cursos superiores (uma grande parte deles!) porque, actualmente não são precisos, por não terem saída para os seus formandos. Não vale a pena andar a camuflar a cara e a defender uma coisa hoje e outra completamente diferente no dia seguinte. O que convém evitar são os extremismos, principalmente em partidos que apoiam o Governo de um país.

Já agora, quando um governo promete conquistar determinadas metas e não o faz ou, mais grave, os planos saem defraudados... deve extinguir-se?

(Atenção: este texto é um pouco extremista)

quinta-feira, agosto 25, 2016

As nossas avós usavam burkinis

O caso da senhora muçulmana, cujo descanso ao sol numa praia de Nice foi interrompido pela polícia, só não revolta quem não consegue pensar acima da religião - de uma qualquer! - e aqueles que não percebem o que faz de nós Humanos e do local que habitamos a Humanidade.

A religião, assim como um arrufo amoroso, o futebol ou qualquer outro tema são usados, muitas vezes, como gatilho para as maiores atrocidades que jamais poderíamos imaginar. Infelizmente, nos últimos anos, grupos de extremistas aproveitaram uma religião, o Islão, para fundamentarem o seu fundamentalismo. Mas já houve massacres no passado onde os seus autores eram de outras religiões ou simplesmente ateus.

O mais grave são os julgamentos que se fazem. São as generalizações que convertem "alguns" no "todo". Tornamo-nos tanto ou mais fundamentalistas do que aqueles que abominamos! Somos influenciados por guerras, paralelas às dos verdadeiros terroristas, que nos toldam a visão e o pensamento.

Em Portugal, no Portugal rural que muitos de nós amam e de onde muitos são oriundos - eu incluído - há burkinis há décadas. E de gente católica, imagine-se a blasfémia! A minha, e provavelmente muitas das nossas nossas avós, usaram/usam lenços pretos a tapar a cabeça e as vestes, igualmente pretas, a taparem o resto do corpo. Das poucas vezes que soube da ida das minhas avós à praia, em nenhuma delas houve lugar para biquini ou fato de banho porque isso sim era blasfémia. Era mostrar partes proibidas do corpo. Dir-me-ão: "hoje já mal se vêem essas senhoras". É verdade, mas existiram e continuam a existir. Isso faz delas terroristas? Ameaças? Deve a GNR dessas regiões rurais obrigá-las a tirar o lenço e as vestes estranhas quando vão à missa ao domingo? Irão elas, modestas senhoras, preparar algum atentado? Ou quando vão à feira? E se quiserem ir à praia com a roupa vestida?

O caso da senhora muçulmana de Nice revoltou e tem - mesmo! - de revoltar porque quem não se sente não é filho de boa gente. Ou então tem memória curta e altamente selectiva.

sexta-feira, junho 24, 2016

London has fallen

A vitória do Brexit levanta muitas incertezas num reino onde Sua Majestade vai ter de defender com unhas e dentes a sua bandeira. O resultado do referendo para a saída da União Europeia representa, em primeira análise, uma separação formal do principal parceiro comercial dos britânicos. Depois há a questão da volatilidade que hoje está elevada, que se espera que assim continue nos próximos dias, mas que ninguém sabe ao certo o resultado final! Há até quem acredite que pode haver uma suspensão do mercado de capitais.

Em números redondos, e segundo as estimativas do governo britânico, o Brexit terá um custo para o PIB do país entre os 3,8 e os 7,5% até 2030. Os críticos dizem que os números serão, eventualmente, muito superiores. Um outro aspecto importante diz respeito à circulação de cidadãos da UE, até agora bastante simples. Actualmente, são cerca de 1,2 milhões os britânicos a viverem noutros países da União, enquanto no Reino Unido há cerca de três milhões de estrangeiros. Será o futuro mais burocrático e complicado a este nível? Muito provavelmente. E as multinacionais inglesas como é que ficam?

Mas voltemos à Rainha e à sua bandeira ou castelo. Aqui reside um outro aspecto essencial para o futuro do Reino Unido. O nacionalismo inglês veio, uma vez mais, ao de cima beneficiando também das dificuldades económico-financeiras que têm atingido a Europa e que têm levado a que noutros países esses mesmos nacionalismos tenham ganho força nos últimos tempos. O que importa saber é como é que Inglaterra vai segurar os Escoceses - que querem estar na UE e ser, simultaneamente, um país independente - ou os habitantes da Irlanda do Norte. E já agora, o impacto que a independência destes dois teria no PIB inglês...

No futuro mais próximo, será interessante ver, por exemplo, que impacto é que a decisão do Brexit terá nos EUA, a braços com eleições presidenciais e com um candidato chamado Donald Trump que tem assumido (alguns) argumentos idênticos aos que defenderam os que votaram na saída da União Europeia. Ainda na Europa, regiões com Barcelona, entre outras, poderão voltar à carga, mais uma vez com os nacionalismos à cabeça, para tentarem a sua independência.

OS NÚMEROS

O dia está a ser caótico: a libra tocou mínimos de 30 anos; o ouro, activo de refúgio em tempos de incerteza, está em máximos de dois anos; as bolsas afundam, algumas delas com perdas que chegam aos dois dígitos; a anca inglesa está a ser muito fustigada; o Reino Unido pode agora perder o precioso rating AAA, segundo a S&P. O governador do Banco de Inglaterra garante estar disponível para injectar 240 mil milhões de libras na Economia.

A incerteza é a palavra de ordem num cenário onde a única certeza é que nada será como dantes!

quarta-feira, junho 22, 2016

Ser Tuga é tramado

Se está à espera de ler algo de novo nas próximas linhas, então o melhor é deixar de ler este texto e ver, vezes sem conta, o primeiro golo de Cristiano Ronaldo no Euro 2016 porque vai, certamente, ficar mais satisfeito.

Não é novo, nem de agora infelizmente, que qualquer que seja o profissional reconhecido internacionalmente na sua área de actuação é desvalorizado, a posteriori pelos portugueses, se for português! A explicação? Não carece de grande ciência. O ser humano tem por hábito "atacar" quem lhe é mais próximo do que o contrário. Defende quem não conhece em detrimento daqueles que são seus ou, neste caso, da sua nacionalidade.

Aquilo que Cristiano Ronaldo fez, juntamente com o resto da selecção nacional de futebol, foi mais um esforço importante de um grupo de profissionais que, bem ou mal, fez o que conseguiu dentro das quatro linhas. Podiam ter feito mais? Podiam, da mesma forma que todos nós poderíamos naqueles dias que "nos correm mal" ou em que "estamos cansados".

Não conheço o CR7 pessoalmente mas tenho algumas certezas quanto ao profissional: falha, como muitos; já provou que é capaz, como poucos; é um patriota de corpo e alma. Critiquem, mas disso não tenham a menor dúvida!

Tudo o que temos e que é nosso é mau. A Bíblia já sabia disso: lembram-se daquele pecado capital de não cobiçar a mulher do outro? Lá está. Não havia futebol, mas havia outro tipo de jogos.
Temos, para lá do futebol, excelentes profissionais. Conseguimos, ao contrário de outras nações, fazer mais com menos. E as (várias) provas disso estão espalhadas por aí.

Da próxima vez, em vez de abrirem a boca para criticarem façam um exercício simples: abram antes os olhos e pensem. Vão ver que a "pintura" muda de cor.

sábado, junho 18, 2016

Um elefante chamado CGD

Quando o Presidente da República chama o Governador do Banco de Portugal e afirma publicamente que na reunião não se abordou o tema Caixa Geral de Depósitos, isso significa duas coisas: que o Presidente Marcelo não quer assumir publicamente o facto para não gerar pânico; que pode ser mal interpretado por ignorar a manada de elefantes de porcelana que tem na sua sala de estar ao querer convencer os portugueses de que o tema não é importante o suficiente para ser discutido!

Exigir a cada português 400 euros para recapitalizar o banco público pode e deve ser explicado. O accionista da Caixa é o Estado. Mas quem é o Estado afinal? São todos os contribuintes que serão chamados, uma vez mais, a encostar a barriguinha ao balcão e a pagar a factura.

O caso Caixa Geral de Depósitos vai - infeliz e provavelmente, terminar numa troca de acusações políticas entre a Esquerda e a Direita, relegando para segundo plano - o que é grave! - o que deve verdadeiramente ser analisado e, caso se justifique, sancionado: as várias gestões da CGD nos últimos anos e a lista de "devedores profissionais" transversais a várias instituições financeiras. A concessão de créditos avultados de ânimo leve teve um papel importante na crise nacional e tem tido um papel crónico nos balanços dos bancos. O problema não é o senhor que deixa de pagar o relógio que comprou a crédito. São os senhores que correram as capelinhas todas e tiveram acesso, em todas elas, a milhões de euros.

Em todos estes casos haverá, certamente, gestores/directores responsáveis que arranjaram formas de aprovar os ditos créditos. É para esses que o Presidente, o Governo e o Parlamento devem olhar com atenção, se tiverem coragem e vontade para isso.

Compreendo e aceito, como aconteceu para outros casos, que a haver uma Comissão Parlamentar de Inquérito deve ser regrada e sem grande ruído porque afectará sempre a Caixa Geral de Depósitos, os seus clientes e o seu accionista: todos nós! Neste processo de honestidade intelectual, o que os políticos/governantes não devem fazer é assumir que quatro mil milhões de euros são "peanuts" e tentar sistematicamente dizer que a Caixa é um banco como todos os outros (privados). E que se os outros precisaram de aumentos de capital, também a CGD precisa!

quinta-feira, junho 16, 2016

segunda-feira, junho 13, 2016

Gays e cenas

A ignorância Humana tem sempre razão. É esta a conclusão a que cada vez mais chego ao assistir a chacinas como a de Orlando. O curioso e chocante é que essa ignorância tenta sempre encontrar justificações para a sua falta de sentido. Façamos uma análise para totós.
Um gay é, antes de mais, um ser humano. Certo? Filho, irmão, pai/mãe, amigo de alguém. Como qualquer um de nós, não é? E enquanto ser humano deve ser respeitado e tem direitos que vão variando de sociedade para sociedade. A ignorância Humana é tal que damos por nós a dizer com frequência - uns mais do que outros: "tenho um amigo que é gay". Como se a etiqueta fizesse diferença na forma como delineia essa amizade ou a pessoa. E nem vou abordar o lado profissional. Não gostam de gays ou "não querem falar do assunto"? Não há problema.
E porque estamos em altura de Euro2016, o Ricardo Quaresma, que é um profissional de qualidade inquestionável, quando não marca ou falha é o "ciganito" ou simplesmente "cigano", "drogado" entre outros adjectivos altamente construtivos. Pelo contrário, se aniquila por completo a defesa adversária e faz golos - como no jogo com a Eslovénia - então regressa ao vocabulário do Ignorante o "grande jogador português"! Com os pretos/amarelos/cor de rosa é a mesma história.
Eu tenho amigos gays; também tenho hetero; esquisitos; chatos; gordos e magros; carecas e cabeludos; e também os tenho de várias cores e feitios. O importante é que são meus amigos. O resto é ruído para quem com isso se preocupa.
Em Orlando assassinaram-se pessoas! Ponto. Não tentem encontrar argumentos que não existem. Mais grave: não assobiem para o lado enquanto o elefante  está sentado à vossa frente na sala e preparado para vos atacar. Será necessário virem pessoas, como algumas figuras públicas o têm feito, assumir a sua homossexualidade para tentarem "alertar" as pessoas para o mal que foi feito?
São, foram, eram pessoas. Ficam famílias destroçadas. Persistem o medo e a incerteza. Vale a pena, pelo menos, deixar-nos de merdas, de vez em quando, e evitarmos que este tipo de mentalidade continue a minar a nossa sociedade.

terça-feira, maio 31, 2016

Estórias de embalar

De um país pequeno, pobre e endividado esperar-se-ia que os grandes objectivos fossem a recuperação da saúde financeira da Economia, empresas e famílias incluídas. Pois dessa forma seria possível dar mais qualidade de vida a quem dela apenas tem défice. Ao invés, o tempo e o dinheiro dos contribuintes continuam a ser gastos para lá das possibilidades - Sim! enquanto uns apertam o cinto, os sucessivos Governos continuam a acumular dívida e a levantar cada vez mais o queixo para vislumbrarem o topo do défice que vai oscilando ao sabor das diferentes ideologias sem nunca descer para níveis saudáveis. Pormenores... num problema que é crónico em Portugal.

Grave é que se continuem a ignorar pobres, paupérrimos, desgraçados e outros que por aí divagam e não têm voz. Discutem-se escolhas de escolas esquecendo um problema básico: que muitas crianças continuam a ir para os locais de ensino com o estômago a dar horas! Que outras nem vão porque falta dinheiro para a sobrevivência básica. Regredimos mas preferimos olhar para o outro lado.

No parlamento, discutem-se escolaridades obrigatórias para toureiros; trocam-se galhardetes e, do que realmente importa, fala-se pouco porque não dá o soundbyte desejado para os meios de comunicação social. Em vez de se discutir as causas dos problemas da banca, por exemplo, cospem-se acusações sobre quem é que deixou cair a instituição. Bad bank? Desculpem mas temos é Bad Bankers!

Da evolução económica, o discurso é transversal: confiança e melhoria mesmo sabendo-se que uma décima acima ou abaixo representa zero na economia real e, portanto, na vida do comum dos mortais. Não se estimula o investimento, o crescimento das empresas e, consequentemente, o emprego... Os nossos parceiros europeus olham para nós como o eterno elemento dos PIG - Portugal, Ireland and Greece - num à rasca constante e com o coração nas mãos, sem saberem quando é que vão ter de chegar-se à frente para apoiarem novamente o país.

A questão é transversal. Repito: transversal. Não é deste ou doutro partido! Usam-se dinheiros públicos SEMPRE para o mesmo: obras que, muitas vezes, não têm outra função que não o mero embelezamento. Basta olhar à volta e perceber que a chegada da Primavera trouxe muitos destes investimentos públicos.

Deixemo-nos de "coisinhas". À nossa volta, o desemprego na Alemanha está ao nível mais baixo desde a reunificação; nos EUA o consumo está em máximos de 20 anos! E andamos nós a fazer rotundas? Ou a plantar árvores junto ao aeroporto num projecto que é, no mínimo, cómico (e não sou eu que o digo. São os entendidos do urbanismo). Basta resolver o seguinte cálculo: aviões + pássaros = queda.

Pergunta final: por que é que nos impõem austeridade que, já percebemos, não resolve a situação? Porque sem austeridade a situação, já de si complexa, seria pior! É por isso que todas as histórias com que nos alimentam são apenas Estórias de embalar: simpáticas, agradáveis mas pouco eficazes e falaciosas.

domingo, maio 01, 2016

Se Senna fosse um gajo normal...

Escrever sobre Ayrton Senna - embora possa parecer exagerado - custa tanto como escrever sobre o meu pai. Foi e é o meu ídolo! Não apenas dentro de pista, onde era extremamente combativo e um perfeccionista como nunca vi, como também fora dela, onde o Homem conseguia superar o piloto: ajudou - ainda em vida e depois através da Fundação Ayrton Senna - milhares de crianças pobres brasileiras a terem educação gratuita.

Assumir alguém como um ídolo - mesmo aos 32 anos - pode parecer exagerado. Mas hoje, mais do que nunca, partilho muitos dos ideais que Senna partilhava, especialmente nos anos 80 e 90 do século passado: luta, persistência, perfeccionismo e bondade. Se houve alguém que na minha opinião esteve perto da perfeição foi Ayrton Senna.

Passaram 32 anos! Lembro-me perfeitamente do dia como se fosse hoje. Tenho hoje praticamente a idade que Senna tinha aquando da sua morte. Senti a sua partida - ainda sinto hoje - como se de de alguém muito próximo se tratasse. Tive a felicidade de o ver ao vivo - no Estoril - e a tristeza de nunca o ter conhecido pessoalmente. Visto uma das suas t-shirts - a duplo S - com o mesmo orgulho com que ele a envergava.

Este texto, por ser tão pessoal, é naturalmente tendencioso. Mesmo assim, não há como não sentir - mesmo que 22 anos depois - a morte de alguém que fazia muita falta ao mundo do automobilismo e, principalmente, ao Brasil! Tal como na altura em que Senna começou a vencer corridas, o Brasil está novamente em crise! Hoje tem menos uma pessoa, de referência mundial, que lute pelos verdadeiros interesses do país.

Há 22 anos que o mundo está (muito!) mais pobre.

terça-feira, abril 19, 2016

Newton à rasca com o BPI

A Terceira Lei de Newton explica bem aquilo que vai ser este muito provável episódio da telenovela Portugal-Angola, BPI-Isabel dos Santos, e todas as outras possíveis/prováveis situações que aparecerem no futuro mais próximo. Ou seja, o que Newton explica nesta lei é que cada acção gera uma reacção. E neste ponto ninguém deve ter dúvidas.

Isabel dos Santos tem razão quando acusa o Governo português de aprovar um decreto-lei que é "deliberadamente parcial". Tem razão, mas não toda. Senão vejamos: o que está em causa é a chamada desblindagem de estatutos da banca, que nesta fase se aplica directamente ao caso BPI. Na prática, o que acontece nestes casos em que há "blindagem" é que um accionista pode ter uma posição de 20% numa instituição, enquanto os seus direitos de voto correspondem a apenas 6%. O que a desblindagem faz é acabar com esta deslealdade/desigualdade. Basta lembrar que a família Espírito Santos, que detinha 3% do capital do BES, controlava totalmente o banco!

O que a empresária angolana e qualquer pessoa com o mínimo de raciocínio facilmente percebe é que este decreto-lei foi delineado para o caso das negociações entre o Caixabank e Isabel dos Santos darem pro torto. Foi o que, aparentemente, aconteceu! E é então que, à boa maneira de um jogo de sueca, se apresenta o trunfo que estava guardado para o final. Mas será que este é mesmo o último trunfo a ser colocado na mesa?

A questão para mil milhões de dólares, neste caso, é saber-se quem vai sair por cima em todo este processo. Se o caminho for o das desavenças, ambos os países e empresas a eles associadas saem a perder! Aqui também não há dúvidas. Não é preciso relembrar as centenas de milhar de portugueses e empresas nacionais que encontraram trabalho em Angola nos últimos anos. E já agora, que fizeram muito dinheiro com isso! É igualmente escusado lembrar as participações que a empresária, que é também filha do Presidente de Angola, tem em empresas portuguesas.

O que me inquieta, no entanto, é a resposta à seguinte questão: teria este decreto-lei - em banho maria supostamente há algum tempo - sido aprovado se a economia angolana não estivesse a passar por um período de crise profunda, turbulência social e política e de desconfiança externa?




terça-feira, abril 12, 2016

O Banco Mau até pode ser bom

A Suécia já enveredou por este caminho há muito tempo, enquanto Espanha, Irlanda e, mais recentemente, Itália também recorreram àquilo que habitualmente se denomina de Banco Mau. É escusado perder-se muito tempo a olhar-se para os balanços dos bancos nacionais para se perceber que estão carregados de créditos de cobrança difícil ou, em alguns casos, duvidosa. O problema é que estes créditos pesam nos balanços, obrigam a provisionamentos e consequentemente limitam a banca numa das suas mais básicas funções que é emprestar dinheiro às famílias e empresas.

É por isso que o chamado Banco Mau pode ser bom para a banca e para a economia nacionais: porque limpa os balanços dos bancos e permite-lhes conceder novo crédito. Há consequências para o sector? Claro que sim! Terão de fazer 'haircuts', isto é, estes créditos serão sempre comprados a desconto. Basta olhar para Espanha e Irlanda onde, em média, o 'haircut' ultrapassou os 50%.

A questão central nesta equação é perceber-se se as vantagens de um veículo como este - que Governo e Banco de Portugal querem implementar - suplantam as desvantagens. E aqui a resposta, mesmo que pecando por simplista, parece óbvia: uma economia como a portuguesa não funciona sem concessão de crédito!

A ideia de António Costa é positiva, tem vários exemplos de sucesso na Europa, mas não está livre de algumas decisões difíceis. Desde logo a sempre necessária luz verde de Bruxelas para a criação de um veículo como este. E neste ponto em concreto é preciso saber-se que papel terá o Estado português no Banco Mau. Já se sabe que não são permitidas ajudas directas, mas poderão ser concedidas garantias estatais para ajudar a convencer investidores privados a comprarem estes activos "tóxicos". Aqui surge outra questão: então e as contas públicas? Que impacto orçamental pode ter uma medida como esta? A resposta a esta pergunta é talvez das mais sensíveis e difíceis.

Voltando à banca, esta terá sempre de aprovar a implementação do veículo, mas com impacto nos seus rácios de capital, significando muito provavelmente aumentos de capital. Outra questão sensível: estará o sector e os seus accionistas disponíveis para mais esta tarefa?

É preciso uma análise profunda ao tema da criação do Banco Mau em Portugal. Há respostas importantes que precisam de autorizações e consenso. Mas o mais importante é que estejamos a discutir estas questões e que se encontrem ferramentas que ajudem o motor da Economia portuguesa a trabalhar novamente a um ritmo mais acelerado, agora que os sinais de crescimento começam a ser menos tímidos!

domingo, março 27, 2016

Espanholização? Vamos lá ser sérios!

Há coisas que me parecem muito claras: quando não há capital é preciso procurá-lo; quem precisa de capital deve ser exigente mas q.b. porque não está necessariamente nas melhores condições para fazer exigências; a importância/valor desse capital varia em função da geografia?

Dito isto, há uma regra básica no mundo financeiro que é diversificar. E também neste caso, esta regra vale ouro. Mas mais uma vez, q.b.!

Não consigo perceber como é que nas últimas semanas pegou moda o termo "espanholização da banca".  Se o sector - ou parte dele - precisa de capital devemos criar entraves à entrada de mais capital espanhol? Ou chinês? Ou marroquino? Ou... Estará a opinião pública amnésica? Então e os negócios que se fizeram (e bem!) com capitais angolanos e chineses nos últimos anos?

Será que alguém acredita - verdadeiramente - que se por exemplo o Santander comprar o Novo Banco - que está em Portugal - vai defender mais os interesses das empresas espanholas do que portuguesas? Ou dos cidadãos espanhóis em detrimento dos portugueses, mesmo que em território nacional? A sério que é nisso que queremos acreditar? Como é evidente, espanhol ou não, fará os negócios que lhe forem mais rentáveis.

Já agora, gostava que me ajudassem a contar o número de empresas que estão em Portugal e que têm uma maioria de capital nacional? Será que quando fizermos as contas vamos revoltar-nos contra essa realidade porque, mais uma vez, não temos capital nacional suficiente para fazer face às necessidades que se impõem?

Se há assim tanta indignação, que se chegue à frente o capital nacional! Onde é que ele está? Que apareça porque tenho a certeza que será bem-vindo!




sexta-feira, março 18, 2016

Posso cair mas caio de pé

Não vou falar de gestões, direcções, rumos ou da falta deles. Vou centrar-me nas pessoas que fizeram o Diário Económico, salmão e em papel, durante 26 anos. Conheci alguns durante os seis anos em que estive no ETV. Conheci muitos outros que, não tendo trabalhado directamente comigo, tinham o Diário Económico, em papel, no seu percurso profissional. Mais importante: não esqueciam a sua passagem por lá e, muito menos, o facto de ser A referência em Portugal nos jornais económicos.

É estranho, muito estranho, que até ao último dia, que mesmo no último dia, o Diário Económico, papel, seja líder no seu segmento. É o mercado a funcionar. É a lei da oferta e da procura. E em relação a isso não há nada a fazer. Podiam ter sido seguidos outros caminhos, mas essa é outra história.

O que me preocupa é o que farão, a partir de hoje, os jornalistas - enormes na coragem e no empenho - que aguentaram com as próprias mãos o peso dos últimos meses: sem meios, sem salário, sem expectativas, sem vontade, sem nada! Fizeram o que tinham que fazer todos os dias, mesmo quando as mãos começavam a ceder devido ao esforço e ao desgaste. Não desistiram. Perderam esta batalha que, desde o início (sabiam!), era desigual e desleal. Eles sabem-no e eu também!

De nada vale, agora, elogiar estes verdadeiros guerreiros a não ser pelo singelo elogio ou por mero alívio de espírito. Eles merecem estas linhas. Ficam sem emprego, ainda com menos esperanças e continuam sem salários. Fizeram o que tinham de fazer até ao último dia. Foram profissionais até ao último momento.

Há um provérbio português que diz "posso cair mas caio de pé"! Foi o que fizeram...  

Faço minha a vossa manchete: obrigado por tudo aquilo que me ensinaram!

quinta-feira, março 17, 2016

Corrupção? Tchau querida!

O Brasil está a provar ao mundo que tudo é possível. Tem mostrado - e não é o único país a fazê-lo - que, se quisermos, a Corrupção e a Impunidade/Imunidade podem ser filhos do mesmo pai. Ou neste caso da mesma mãe.

A decisão de Dilma Rousseff de nomear Lula da Silva para Chefe da Casa Civil, um cargo de relevo no Brasil, é de uma gravidade intratável. Parece-me óbvio que todos devemos partilhar a máxima de que, até prova em contrário, todos são inocentes. O que não pode acontecer é nomear-se alguém, dando-lhe imunidade, para o livrar da justiça. Pode dizer-se que é injusto mas, mais importante, é intolerável que o chefe de Estado de um país o faça.

As manifestações numerosas do povo brasileiro nas ruas de pouco lhes vale. Liberta-lhes a alma mas Dilma e agora Lula estão reféns do poder. O primeiro não renuncia e o segundo aceita a porta para imunidade que acaba de lhe ser escancarada.

Na prática, Lula, ao aceitar o cargo de chefe da Casa Civil, vai poder ser investigado apenas pelo Supremo Tribunal de Justiça do Brasil. Fica, para já, livre de outras investigações. Ficará livre da crítica da opinião pública? Logo veremos por quanto tempo durará a memória do povo brasileiro.

Infelizmente, já se percebeu que não basta pedir a demissão de Dilma ou gritar "vergonha" e "ladrão" porque no Brasil - como noutros países - a corrupção está em todo o lado: na favela ou no bairro chique.

No filme Wall Street, Michael Douglas, no papel de Gordon Gekko, afirmava que "greed is good, now it seems it's legal". No Brasil parece estar a acontecer o mesmo. Não é apenas a ganância mas principalmente a Corrupção que parece estar a ser legalizada.

Só espero que, tal como disse Lula a Dilma na conversa telefónica agora divulgada, a resposta do Brasil à Corrupção seja: tchau querida!

terça-feira, março 15, 2016

A bicharada agradece

Demorou tempo (demais!) mas Portugal está a evoluir, finalmente, numa área que há muito deveria ter descolado mas que por imposição dos políticas adoptadas ficou a repousar na gaveta.

Daqui em diante - e até que se lembrem de alterar a legislação, as pessoas que tiverem animais e, por conseguinte, despesas com veterinário vão poder deduzir 15% do IVA. Trata-se de uma dedução automática, desde que seja pedida factura com número de contribuinte, até um máximo de 250 euros por agregado familiar. Pode ainda ser pouco, mas vale pelo princípio que defende!

Escusado será dizer que todos os portugueses que têm e amam os seus animais - e já agora, que os tratam com dignidade - ficaram imensamente satisfeitos com esta medida. Não pelo valor da dedução em si mas pelo princípio... porque já lá vai o tempo em que o animal estava preso com uma corrente no pescoço e "servia" apenas para guardar a casa.

Que esta nova legislação sirva também para que mais pessoas que têm animais os tratem com o respeito e carinho que eles merecem: que não se esqueçam deles nas férias ou que não os larguem quando se tornam adultos. Que os tratem como família porque quando os temos é isso mesmo que representam!






sexta-feira, março 11, 2016

Marcelo "O Sorridente"

Não era preciso esperar pela tomada de posse oficial do Presidente Marcelo para saber que o Protocolo, a Segurança e todas as variáveis que rodeiam o Presidente da República de Portugal iam ter de começar, rapidamente, a reformular-se porque tinham um problema em mãos. Ou melhor, não têm problema algum! Este é um Presidente porreiro, que quer estar próximo das pessoas. Não do povo. Percebem a diferença? Para ele só há Pessoas, Portugueses, aqueles que o elegeram e a quem deve também respeito.


Em poucos dias, Marcelo "O Sorridente" conseguiu centrar as atenções de todos: chegou a pé à tomada de posse; escolheu um discurso de união, citando Miguel Torga, e soube - sabe-o fazer melhor do que ninguém - conciliar. Foi isso que simbolizou a cerimónia inter-religiosa "sem precedentes" em que participou - e sobre a qual teve responsabilidades - na Mesquita de Lisboa.No dia seguinte foi ao Porto, num sinal evidente de que o país não é só Lisboa. No Sábado abre as portas do Palácio de Belém para receber os mais curiosos. E vai mesmo estar lá, ou não fosse ele o anfitrião.

Apesar de toda esta liberdade de circulação, Marcelo vai ter de adequar a sua personalidade ao cargo e agenda que agora assume. Terá muitos desafios pela frente e, certamente, decisões difíceis. Antecipar o seu mandato seria um acto de pura adivinhação. Ainda assim, o que fica, para já, é esta imagem de um Presidente que dá quase vontade de convidar para um café matinal para uma pequena conversa sobre as capas dos jornais do dia.

Vai uma bica Sr. Presidente?


sexta-feira, janeiro 08, 2016

Maldito Salário

Publicado hoje no Diário Económico:

A crise que muitos analistas dizem já ter passado, continua a marcar as empresas nacionais. Ao desemprego juntam-se agora o atraso ou o não pagamento de salários.

No dicionário, a palavra Salário significa “retribuição pecuniária do serviço executado”. A palavra deriva do latim Salarium e nasceu de sal, outrora usado como forma primária de pagamento.

Há quem diga que a maior e mais difícil privação para o ser humano é a do sono, associada muitas vezes às forças especiais ou a quem, por outro tipo de obrigações, tem o tempo de tal forma ocupado que não sobra muito para dormir. E se este primeiro ponto não merece grande contestação – quem não conhece as consequências de noites mal dormidas que atire a primeira pedra – o próximo também não: a privação de salário.

São várias as centenas de milhar de desempregados em Portugal. Mas há (felizmente!) quem esteja no outro prato da balança, apesar da conjuntura ainda muito difícil do país. São pessoas com trabalho, que se levantam todos os dias para cumprirem com as suas tarefas a tempo e horas. Que aguentam horas extra sem que estas lhes sejam pagas. Que abdicam da família porque o trabalho a isso obriga. Colocam-se em segundo plano para que no topo esteja sempre e só o empregador. Até se sujeitam, por causa da conjuntura adversa, a atrasos nos pagamentos. Há, no entanto, nesta equação uma variável que não pode ser ignorada: o não pagamento de salários.
O pior cenário que um qualquer trabalhador pode ter em termos profissionais, além do desemprego, é trabalhar mas não ser pago por isso. 

A lei nem sempre protege quem mais dela precisa. Os que querem trabalhar mas, nestes casos, não conseguem vêem-se obrigados a deslocar-se para o emprego até que os prazos legais sejam atingidos. Recorrem a quem os pode auxiliar – mesmo que também com dificuldades; deixam de pagar as prestações. Entram em incumprimento mesmo que em primeira e última instância isso não seja necessariamente responsabilidade sua! Encontram desculpas para se desculparem. Fazem ver aos bancos que se não pagam é – mesmo! – porque não podem. E estes casos são muitos. Por causa da crise, são cada vez mais!

Os empregadores, que têm a responsabilidade de pagar os ditos salários, começam a ficar sem sal. Outros já não têm quaisquer receitas para o fazer. Há quem não consiga cumprir com as suas obrigações salariais não por vontade, ou porque sim, mas porque a tal conjuntura se complicou de tal forma que há que ir racionando o dinheirito que vai entrando. Para muitos, a solução será o fecho de portas, sem dinheiro para actualizar os salários em atraso e muito menos para pagar indemnizações. Mais uma vez, a lei nem sempre é amiga de quem fica literalmente a arder.

Perante este cenário, o salário, ou a falta dele, torna-se uma maldição. O trabalhador mantém a família em segundo lugar mas com a agravante de não levar para casa o dinheiro que permite saldar contas e comprar comida. Castiga-se psicologicamente por não o conseguir. Acredita que não há alternativa. Um estudo publicado em Fevereiro do ano passado, na revista The Lancet Psychiatry, revela que, por ano, há 45 mil pessoas que se suicidam porque estão desempregadas. Sobre Portugal, conclui que foi o país “mais afectado em termos de suicídios ligados ao desemprego”, apesar da “qualidade dos dados disponíveis ser bastante fraca”. Mais importante do que estes dados, é mostrar-se a quem não tem salário ou emprego que há alternativas. E que algumas podem ser viáveis!