sábado, junho 18, 2016

Um elefante chamado CGD

Quando o Presidente da República chama o Governador do Banco de Portugal e afirma publicamente que na reunião não se abordou o tema Caixa Geral de Depósitos, isso significa duas coisas: que o Presidente Marcelo não quer assumir publicamente o facto para não gerar pânico; que pode ser mal interpretado por ignorar a manada de elefantes de porcelana que tem na sua sala de estar ao querer convencer os portugueses de que o tema não é importante o suficiente para ser discutido!

Exigir a cada português 400 euros para recapitalizar o banco público pode e deve ser explicado. O accionista da Caixa é o Estado. Mas quem é o Estado afinal? São todos os contribuintes que serão chamados, uma vez mais, a encostar a barriguinha ao balcão e a pagar a factura.

O caso Caixa Geral de Depósitos vai - infeliz e provavelmente, terminar numa troca de acusações políticas entre a Esquerda e a Direita, relegando para segundo plano - o que é grave! - o que deve verdadeiramente ser analisado e, caso se justifique, sancionado: as várias gestões da CGD nos últimos anos e a lista de "devedores profissionais" transversais a várias instituições financeiras. A concessão de créditos avultados de ânimo leve teve um papel importante na crise nacional e tem tido um papel crónico nos balanços dos bancos. O problema não é o senhor que deixa de pagar o relógio que comprou a crédito. São os senhores que correram as capelinhas todas e tiveram acesso, em todas elas, a milhões de euros.

Em todos estes casos haverá, certamente, gestores/directores responsáveis que arranjaram formas de aprovar os ditos créditos. É para esses que o Presidente, o Governo e o Parlamento devem olhar com atenção, se tiverem coragem e vontade para isso.

Compreendo e aceito, como aconteceu para outros casos, que a haver uma Comissão Parlamentar de Inquérito deve ser regrada e sem grande ruído porque afectará sempre a Caixa Geral de Depósitos, os seus clientes e o seu accionista: todos nós! Neste processo de honestidade intelectual, o que os políticos/governantes não devem fazer é assumir que quatro mil milhões de euros são "peanuts" e tentar sistematicamente dizer que a Caixa é um banco como todos os outros (privados). E que se os outros precisaram de aumentos de capital, também a CGD precisa!

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