sábado, março 05, 2005

O “novo” governo de Portugal


José Sócrates revelou ontem o novo Governo de Portugal constituído em igual número por socialistas e independentes.

O anúncio feito pelo secretário-geral do PS e futuro primeiro-ministro, José Sócrates, ficou marcado por duas grandes surpresas. Por um lado, a presença de Freitas do Amaral no Governo, como ministro dos Negócios Estrangeiros e, por outro, a ausência de António Vitorino que trocou o poder pela advocacia.

Vitorino acabou por resistir às pressões do partido e de Mário Soares que o tinham como «peça fundamental» para o novo governo. Vitorino declarou no programa Diga Lá Excelência, nas vésperas da campanha eleitoral, não ter feitio para ser número dois. A decisão do ex-comissário europeu não o afasta, no entanto, de uma possível «corrida» para Belém, no caso de António Guterres não avançar.

Jaime Gama passa a ser a segunda figura da hierarquia do Estado, como presidente da Assembleia da República.

António Costa, figura enigmática do PS e importante durante a campanha, será o Ministro de Estado e da Administração Interna, tendo a seu cargo a reforma do Estado – na administração pública e na reorganização territorial.

Freitas do Amaral ficou com a pasta dos Negócios Estrangeiros, uma decisão tomada por Sócrates, apesar de alguns socialistas não acreditarem na «súbita aproximação» de Freitas do Amaral ao PS. O facto de Amaral ter concorrido em 1986 às presidenciais enfrentando Mário Soares estará na origem da «desconfiança».

Por seu lado, o centrista afirmou que «há momentos em que o país precisa do contributo especial de alguns para o bem comum de todos», acrescentando que «não estamos em altura de virar as costas ou de encolher os ombros, mas no momento exacto de dar a cara».

A quota de independentes do novo governo é paritária com a quota de militantes: oito ministros são independentes e oito militantes socialistas.

O futuro Governo integra, para além de Freitas do Amaral, Luís Campos e Cunha, presidente da Faculdade de Economia da Universidade Nova, ministro de Estado e das Finanças; Francisco Nunes Correia, presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, no Ambiente; Manuel Pinho, ex-administrador do grupo Espírito Santo, na Economia e Inovação (porta-voz do PS para a Economia desde que José Sócrates assumiu a liderança); Jaime Silva, conselheiro principal da representação portuguesa em Bruxelas, na Agricultura; Isabel Pires de Lima, catedrática de Literatura da Universidade de Letras do Porto, na Cultura (ex-militante do PCP, que rompeu com este partido numa discordância no início dos anos 90, é deputada independente pelo PS desde 1999); Maria de Lurdes Rodrigues, presidente do Conselho Científico do ISCTE, na Educação; Alberto Costa, advogado, (foi ministro da Administração Interna, num mandato polémico e interrompido após a sua célebre frase: "esta não é a minha polícia") na Justiça; Luís Amado, economista, («gamista», foi secretário de Estado nos governos de Guterres) na Defesa; Correia de Campos, advogado, doutorado em saúde pública e ex-consultor do Banco Mundial, (foi ministro da Saúde apenas por oito meses durante o segundo mandato de Guterres) na Saúde; Vieira da Silva (ex-braço direito de Ferro Rodrigues) no Trabalho e Segurança Social; Pedro Silva Pereira (foi braço-direito de Sócrates desde os tempos do Ministério do Ambiente) na Presidência; Mário Lino, ex-presidente da «holding» pública Águas de Portugal e do Conselho de Administração da IPE, (homem próximo de José Sócrates e reconhecido pela capacidade de gerir os recursos que tem para atingir os objectivos) nas Obras Públicas e Transportes; Mariano Gago (um dos ministros mais mediáticos e com melhor imagem dos governos de Guterres) nas Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Augusto Santos Silva, doutorado em Sociologia e professor da Universidade do Porto, (tutelou as pastas da Educação e da Cultura nos Executivos de António Guterres) nos Assuntos Parlamentares.

As contestações realizadas ao facto de o novo governo ser pequeno (em número de ministros) parece não importunar José Sócrates, que declarou que o novo governo «é pequeno, com 16 ministros, mas com pessoas muito preparadas e muito motivadas».

Fontes: Expresso, JN, Lusa e Público

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