sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Debate “pouco expressivo”

Debate televisivo entre líderes do PS e PSD, José Sócrates e Santana Lopes, respectivamente, mostrou-se pouco agressivo, tendo-se centrado, na sua maioria, na polémica em torno dos boatos da campanha eleitoral.

O novo modelo de debate adoptado acabou por não permitir que José Sócrates e Santana Lopes discutissem de forma mais “aberta” as questões políticas, visto que nenhum deles pôde interromper o seu adversário.

O debate foi moderado pelos jornalistas Ricardo Costa, Maria Flor Pedroso, José Gomes Ferreira e Rodrigo Guedes de Carvalho e foi transmitido em simultâneo na Dois e na Sic.

José Sócrates focou, particularmente, os três anos de governação PSD/CDS, enquanto que Santana Lopes vincou a sua imagem de “lutador”, que não se deixa derrotar, fazendo alusão à «fuga de António Guterres»

Aquando da pergunta da jornalista Maria Flor Pedroso acerca dos boatos da campanha eleitoral, José Sócrates, em tom um pouco exaltado, afirmou tratarem-se de «alusões absolutamente brejeiras», de «boatos mentirosos», e considerou-os mesmo como sendo «uma página negra na vida do PSD».

Santana Lopes reafirmou o que já tinha declarado nos meios de comunicação social. O líder social-democrata assegurou não ter feito qualquer tipo de insinuações quanto à vida privada de Sócrates, mesmo porque, segundo o mesmo, a vida privada não deve contar para voto.

O líder do PSD acusou Sócrates de «estar a ser levado ao colo por alguns sectores da sociedade».

Ambos os líderes se comprometeram a não aumentar os impostos, conquanto José Sócrates tenha também afirmado não os baixar. Pelo contrário, Santana Lopes referiu que, uma vez que as contas públicas começaram a ficar equilibradas, poderá haver uma descida do IRC.

O secretário-geral do PS prosseguiu, recordando que Durão Barroso tinha prometido um choque fiscal e não cumpriu. José Sócrates co-responsabilizou Santana Lopes por esse incumprimento.

José Sócrates reafirmou as suas intenções no que diz respeito à pobreza, anunciando que irá atribuir uma prestação complementar às pensões dos idosos com rendimento inferior a 300 euros mensais, acrescentando que não podem pedir «a um socialista para virar a cara para o lado quando existe pobreza».

Santana Lopes confrontou Sócrates, dizendo que a convergência das pensões mais baixas com o salário mínimo prossegue a bom ritmo.

Ambos os líderes não excluíram a possibilidade do levantamento do sigilo bancário, embora tenham divergido no que diz respeito à despenalização do aborto, os casamentos e adopções por casais homossexuais, a eutanásia e a clonagem.

José Sócrates confirmou a realização de um referendo sobre o aborto, dentro dos mesmos moldes do de 1998, caso vença as eleições.

Santana Lopes definiu a questão dos casamentos homossexuais, da eutanásia e da clonagem como temas da agenda política, o que levou Sócrates a declarar que «esses não são os temas da agenda política». Santana Lopes retorquiu, dizendo que «estes temas estão na agenda política em Espanha, nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus».

No que se refere a propostas políticas não houve grandes surpresas. José Sócrates referiu a sua intenção de recuperar 150 mil empregos na próxima legislatura e pediu explicações a Santana Lopes relativamente à perda do mesmo número de postos de trabalho nos últimos três anos.

O líder social-democrata respondeu, explicando que o maior nível de desemprego se deu durante a governação de António Guterres.

José Sócrates pediu, mais uma vez, a maioria absoluta aos portugueses, afirmando que esta «não é para ter mais poder ou para desprezar as oposições», mas para dar a Portugal um governo para quatro anos.
Santana Lopes acusou o PS de ter a mesma equipa de governo de António Guterres, argumentando que «a equipa do PS é a mesma que agora quer voltar depois das contas públicas estarem mais em ordem» e acrescentou anunciando que «esta oratória do PS no sentido da maioria absoluta é para levar a que não se diga com quem é que se coliga».

O líder do PSD não se expressou quanto ao «limiar mínimo» para se manter na liderança do partido, em caso de derrota eleitoral.

No final do debate e como declaração final, Sócrates disse querer «transmitir aos portugueses energia, uma ambição. Estou aqui porque acredito em Portugal e nos portugueses».

Santana Lopes, pelo contrário, deixou no ar um voto de confiança: «contem comigo. Eu atrevo-me também a dizer que conto convosco».

Fonte: Expresso

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