Os últimos dias têm servido para apresentar aspectos vários e variados da noticiabilidade. E porquê?
Não é difícil descortinar aquilo a que me refiro. As televisões, os jornais, as rádios, todos os meios online – blogues, sites – têm estado numa luta desenfreada para conseguirem saber o que se passa com a pequena Maddie.
Um aspecto que se salienta de toda a intervenção dos jornalistas portugueses, nomeadamente, prende-se com o facto de quererem descobrir a criança mesmo antes das autoridades responsáveis pela investigação. Até o Politicada se vê obrigado a escrever sobre o assunto, a realizar uma votação e a colocar como imagem da semana umas das inúmeras fotografias da desaparecida.
O que faz alguém raptar uma criança? O que leva alguns pais a deixarem os seus filhos – crianças – sozinhas em casa enquanto jantam num restaurante? As questões são proeminentes, conquanto não sejam aquelas que, nesta abordagem, me digam respeito.
O objectivo primeiro é questionar, observar e fazer uma pequena análise da cobertura jornalística que tem sido dada ao caso.
Outras questões se levantariam neste sentido. Aliás, foram mesmo levantadas outras interrogações, por exemplo com o caso da pequena Joana que, segundo algumas vozes que se fizeram ouvir, não teve a mesma “intensidade” nas buscas.
Penso que a palavra “intensidade” descreve objectivamente algo que é, por razões óbvias, subjectivo e complexo. Lagos foi assaltada por um exército de jornalistas com uma missão comum: saber, passo a passo, o que está a acontecer. Desde o babete – que uns dizem tratar-se de uma camisola de alças – até à deslocação dos pais de Madeleine para a PJ. As câmaras estão constantemente apontadas para o local do jornalista que, sempre que necessário, entra em acção para uma vez mais repetir toda a informação anterior e, quando possível, revelar algo de novo.
O jornalismo é assim. Repete-se para que o público absorva mais facilmente a informação. As investigações estão praticamente finalizadas sem que, todavia, se saiba o paradeiro da criança. O que será dos jornalistas? Dos helicópteros das televisões? Das centenas de cabos, dezenas de câmaras, jornalistas, carros de exteriores e enviados especiais à terra natal da pequena Maddie?
A resposta é óbvia. Todos regressarão a casa e, sempre que se justifique, voltarão ao ataque. O jornalismo é assim mesmo. E quanto aos pais? Este é um lado da história que é certamente mais difícil de delinear. As palavras consolam mas não trazem a criança. A cobertura jornalística ajuda (???) mas no final o resultado é o mesmo.
De todo este drama gostaria apenas de salientar um aspecto: a frente de ataque. Na primeira fila, no início da rua, nas conferências de imprensa da PJ – a tirarem as folhas ao director-adjunto – estão sempre os jornalistas. Há que distinguir aqui dois tipos de profissionais: os Portugueses e os Ingleses. Ou melhor, há que tentar encontrar diferenças entre ambos.
Os tablóides ingleses são reconhecidíssimos pelo sensacionalismo e pela “intensidade” com que tratam os factos. A novidade aqui, que não tem sido grande nos últimos tempos, é a actuação dos media portugueses. Neste suposto rapto que aconteceu em Lagos, os dois grandes exércitos uniram-se numa mesma luta.
Não vou alongar mais este “post”, mas pretendo apenas deixar “no ar” esta questão: a intensificação dos media portuguesa nos temas que mais mexem com os sentimentos das pessoas. Será que os media portugueses, em geral, estão a tornar-se sensacionalistas? Será esse, num futuro próximo, o critério de noticiabilidade? Pessoalmente espero que não. Na prática, quem tem visto televisão, lido jornais ou media online ou mesmo ouvido noticiários, saberá do que aqui se trata…
É curioso conhecermos determinados pressupostos jornalísticos e percebermos que na prática nada disso existe. Não há sequer a preocupação em saber se a cobertura jornalística está a corresponder aos interesses da maioria do público. Acredito que os portugueses estejam, por esta altura, ansiosos por saberem o paradeiro da menina. Do mesmo modo, também acredito que estejam fartos de terem, de manhã à noite, imagens e relatos da pequena Maddie a entrarem-lhe pela casa dentro.
Só para terminar, até a resignação de Tony Blair veio em hora inoportuna. Talvez o sr. Blair devesse “puxar as orelhas” aos seus assessores por não terem escolhido uma boa altura para o seu comunicado. Enfim, o jornalismo é isto mesmo. Vive de encontros e desencontros, tanto no país como no mundo. Não é isso que ouvimos diariamente?