O Presidente da República fez aquilo que há 40 anos se aplica em Portugal - apesar da Constituição ser mais abrangente - após eleições legislativas: o partido que tem mais votos forma governo. Foi o que aconteceu, no passado mais ou menos longínquo, com Soares, Guterres e Sócrates. Isto se pensarmos, apenas, nos governos socialistas.
O que é que distingue então estes exemplos da actual coligação PàF? Se quisermos simplificar: os partidos da Esquerda uniram-se para fazer cair a Coligação PàF e depois logo se vê. Logo se vê porque não há medidas (oficiais) conhecidas.
Fala-se de acordos mas ninguém os conhece. E ao contrário do que habitualmente é válido na política, aqui o que parece - haver um acordo PS+BE+PCP - não é! Não será pelo menos até ser oficializado.
Aqui chegados importa olhar para o título deste texto. É inacreditável a forma como se destrata - e aqui refiro-me à figura do Presidente de República e não concretamente a Cavaco Silva - a decisão e o próprio Chefe de Estado. No mínimo, podemos dizer que é pouco cordial afirmar-se, como fez Catarina Martins, que o discurso de Cavaco "mais do que um discurso de partido é um discurso de seita!".
Se as eleições fossem um jogo de futebol, e utilizando a linguagem da bola, os partidos da Esquerda venceram o jogo, mas graças ao árbitro, que aceitou os golos em fora de jogo. No final dos descontos, foi afinal a PàF que levou a melhor.
O que aí vem são certamente tempos de instabilidade governativa. O primeiro teste - depois dos últimos 18 dias - para António Costa será a aprovação do Presidente da Assembleia da República. Se conseguir vencer essa batalha, vai tentar, juntamente com o BE e PCP, fazer cair o governo. Resta saber o que virá depois. A ter em conta as palavras do Presidente da República, o que nos espera - a todos - poderá ser um governo de gestão liderado pelo PSD e CDS-PP.