sexta-feira, julho 08, 2011

A Moody's e a "falta de material"



Quem não se lembra das tão angustiantes faltas de material que os professores tanto gostavam de marcar quando andávamos na escola? Quem nunca teve um falta disciplinar por se ter esquecido de um livro, de um qualquer acessório para determinada disciplina, de um lápis às vezes...

A Moody's (mas também a S&P e a Fitch) sofreram várias "faltas" quando não anteciparam a crise que hoje rasga todo o globo, não distinguindo economias fortes ou fracas.

Foi o corte para "lixo" do rating da república portuguesa, realizado esta terça-feira, uma tentativa para evitar mais uma dessas faltas? É possível. Mas não terá sido o único ou principal motivo. As justificações apresentadas para tal decisão mostram uma falta, grave, no timing escolhido. O novo governo tem maioria ampla parlamentar; foram apresentadas várias medidas que vão, para já, além das metas da Troika e o executivo de Pedro Passos Coelho parece bastante comprometido com estes objectivos.

Então porque foi cortada a notação financeira de Portugal? Interesses alheios? Disputa entre EUA/Europa, Euro/dólar? Os analistas mais políticos da situação parecem acreditar que sim.

A verdade é que se pensarmos friamente, mesmo que o Governo cumpra com todas as metas estabelecidas, sem qualquer deslize, há uma boa probabilidade de Portugal não conseguir regressar aos mercados em 2013. O que na prática significa que não conseguirá financiar-se nos mercados a taxas consideradas aceitáveis. E se não se financia de forma autónoma pode ver-se obrigado a pedir nova ajuda. E sem perdermos essa frieza de pensamento, se estes cenários se confirmarem, mesmo com o esforço do Governo, o país pode deixar de pagar parte da dívida que está nas mãos dos credores. Pessimismo? Talvez não. Apenas um cenário possível que deve e foi tido em conta pela Moody's.

Mas quem são os culpados (uma palavra forte, mas necessária) de toda esta situação? Haverá vários, certamente. Políticos, económicos e até financeiros. Cada um saberá apontar alguns nomes. O importante é não esquecer que, depois de tantas "faltas de material", a Moody's quis evitar um terceiro aviso que daria origem a uma "falta disciplinar". Acabou por levantar um nível de contestação em toda a europa; colocou uma vez mais em causa o papel das agências de rating; aumentou a crispação surda entre EUA e Europa e causou perdas acentuadas em Portugal: na bolsa, nas suas cotadas e, claro, na imagem e confiança em relação ao país.

Terá evitado uma "falta de material"? Penso que sim. Mas pelo timing e pela falta de consideração pelo trabalho já realizado por Portugal, teve direito a uma expulsão e à respectiva "falta disciplinar".

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