sexta-feira, julho 29, 2011

A "finta" de Passos Coelho

No último dia de campanha para as legislativas, Pedro Passos Coelho (então candidato pelo PSD) fez questão de lembrar aos jornalistas que se fosse eleito Primeiro-ministro "falaria sempre aos jornalistas".

A sentença, então ditada em forma de crítica a José Sócrates que se esquivava com cada vez mais frequência aos jornalistas, ficou retida. Não esqueci, tal como muitos portugueses o terão feito. Bastaram apenas 30 dias e uma eleição para que o agora Primeiro-ministro faltasse à palavra.

Esta sexta-feira, no final do primeiro Debate Quinzenal entre Passos e o seu amigo das "J's" António José Seguro, Passos Coelho entrou em "default" para com o país. Quando tudo estava preparado nos Passos Perdidos da Assembleia da República, o Primeiro-ministro decidiu sair por outra porta, fintando os jornalistas que estavam há largos minutos à espera para ouvirem o que tinha a dizer e para prestar alguns esclarecimentos.

Não o fez. Primeiro, em jeito de jovem rebelde, espreitou pela porta para logo de seguida se esquivar em passo acelerado para fora do alcance dos jornalistas... Sempre rodeado pelos restantes membros do Governo e respectivos seguranças.

Não falou. Não esclareceu. Ignorou o trabalho daqueles que diariamente informam o país. Dos profissionais que servem de veículo para que o próprio Primeiro-ministro chegue aos portugueses.

A surpresa foi geral entre os jornalistas, nomeadamente os das várias televisões que estavam em directo. Eu fui um deles. Senti-me ignorado... Como jornalista e como português. Por isso, não resisti a dizer, ainda em directo: "Pedro Passos Coelho acaba de fintar os jornalistas".

quarta-feira, julho 20, 2011

Portugal e o Tempo

Era uma vez um jovem adulto, com cerca de 3o anos, acabado de deixar a casa dos pais. A independência chegou com muita luta, empenho e esforço (nem sempre reconhecido).

Depois de algumas décadas de muitas dificuldades, a vida a solo acabou por revelar-se interessante. O dinheiro ia bastando para as necessidades, inicialmente reduzidas, mas que com o tempo foram aumentando... "Necessidades" nem sempre necessárias ou importantes. Gastou mais do que devia!

O tempo trouxe mais gastos para essas necessidades. O bom senso dizia-lhe para poupar, para não gastar mais do que o necessário. Mas a ambição e a cobiça levaram-no a ignorar o racionalismo que lhe seria exigido, depois de alguns problemas, sérios, na adolescência.

A Política era um dos seus maiores interesses e acabou por deixar de lado as questões económica e financeira. O tempo, que nunca perdoa, foi passando. E com o tempo apareceu a realidade, cada vez mais dura, que o obrigou a tornar-se mais racional, mais comedido nos gastos, menos irresponsável.

Foram precisos mais de 30 anos para que este jovem adulto, Portugal de seu nome, percebesse que passara a primeira fase da vida de forma leviana, sem responsabilidades e com ausência total de consciência. O tempo alertou. Mas será que há ainda tempo para evitar uma nova recaída?

sexta-feira, julho 08, 2011

A Moody's e a "falta de material"



Quem não se lembra das tão angustiantes faltas de material que os professores tanto gostavam de marcar quando andávamos na escola? Quem nunca teve um falta disciplinar por se ter esquecido de um livro, de um qualquer acessório para determinada disciplina, de um lápis às vezes...

A Moody's (mas também a S&P e a Fitch) sofreram várias "faltas" quando não anteciparam a crise que hoje rasga todo o globo, não distinguindo economias fortes ou fracas.

Foi o corte para "lixo" do rating da república portuguesa, realizado esta terça-feira, uma tentativa para evitar mais uma dessas faltas? É possível. Mas não terá sido o único ou principal motivo. As justificações apresentadas para tal decisão mostram uma falta, grave, no timing escolhido. O novo governo tem maioria ampla parlamentar; foram apresentadas várias medidas que vão, para já, além das metas da Troika e o executivo de Pedro Passos Coelho parece bastante comprometido com estes objectivos.

Então porque foi cortada a notação financeira de Portugal? Interesses alheios? Disputa entre EUA/Europa, Euro/dólar? Os analistas mais políticos da situação parecem acreditar que sim.

A verdade é que se pensarmos friamente, mesmo que o Governo cumpra com todas as metas estabelecidas, sem qualquer deslize, há uma boa probabilidade de Portugal não conseguir regressar aos mercados em 2013. O que na prática significa que não conseguirá financiar-se nos mercados a taxas consideradas aceitáveis. E se não se financia de forma autónoma pode ver-se obrigado a pedir nova ajuda. E sem perdermos essa frieza de pensamento, se estes cenários se confirmarem, mesmo com o esforço do Governo, o país pode deixar de pagar parte da dívida que está nas mãos dos credores. Pessimismo? Talvez não. Apenas um cenário possível que deve e foi tido em conta pela Moody's.

Mas quem são os culpados (uma palavra forte, mas necessária) de toda esta situação? Haverá vários, certamente. Políticos, económicos e até financeiros. Cada um saberá apontar alguns nomes. O importante é não esquecer que, depois de tantas "faltas de material", a Moody's quis evitar um terceiro aviso que daria origem a uma "falta disciplinar". Acabou por levantar um nível de contestação em toda a europa; colocou uma vez mais em causa o papel das agências de rating; aumentou a crispação surda entre EUA e Europa e causou perdas acentuadas em Portugal: na bolsa, nas suas cotadas e, claro, na imagem e confiança em relação ao país.

Terá evitado uma "falta de material"? Penso que sim. Mas pelo timing e pela falta de consideração pelo trabalho já realizado por Portugal, teve direito a uma expulsão e à respectiva "falta disciplinar".