domingo, dezembro 11, 2005

Que vontade de partir

O meu país enfrenta uma situação financeira grave, este facto não é novidade para ninguém. A crise social assume proporções preocupantes e, para a sua resolução, é necessário um esforço à escala nacional, que una todos os cidadãos segundo objectivos comuns. Era esse o Portugal em que eu queria viver, no entanto, a realidade é um deserto.

Vivo num país descrente de ideias, onde um debate entre dois candidatos presidenciais, encontro onde, supostamente, se deveriam discutir soluções para a melhoria das condições de vida dos portugueses, tem menos audiência que uma novela brasileira. Que país é o meu?

Não podemos andar constantemente a dizer que a culpa é da conjuntura, da adesão à União Europeia, ou, ainda mais ridículo, do coitado do Durão Barroso que nos abandonou.

Aceitemos o que somos, nada mais nada menos que um povo agreste, alheado, despreocupado com o que se passa à sua volta.

Portugal é neste momento um país ridículo, basta olhar para alguns exemplos do dia-a-dia. È com amargura que vejo os funcionários públicos, camada mais privilegiada da população, exigir a manutenção das regalias exorbitantes que usufruem face à situação grave do país. Será que eles não vêem que em alturas de crise não é possível manter privilégios desmedidos? Não menos graves, são construções megalómanas como o aeroporto da Ota ou TGV, exemplos do quão desmesurado é o nosso país quando importa escolher áreas de investimento essenciais.

Será que vamos continuar à espera do D. Sebastião? Não creio que valha a pena, não sei mesmo se esse senhor ainda existe. O que eu sei é que Portugal está envolto num ciclo vicioso, um colete-de-forças que destruirá, nos próximos anos, o sistema de segurança social. Não é este o país que os nossos avós sonharam em 1974.

Hoje percebo que não somos dignos da herança que recebemos. Podemos continuar a pôr bandeiras nas varandas, no entanto só seremos realmente portugueses quando assumirmos as nossas responsabilidades quotidianas.

Quando percebermos que ao fugir aos impostos, ao falsificar facturas médicas (ADSE) para as poder trocar por óculos de sol, estamos a roubar o futuro aos nossos filhos, será, certamente, tarde de mais.

Isto é apenas um rascunho do que somos, oxalá haja a coragem governamental para reverter a situação.