quinta-feira, maio 10, 2007

É disto que vivem o país e o mundo?


Os últimos dias têm servido para apresentar aspectos vários e variados da noticiabilidade. E porquê?

Não é difícil descortinar aquilo a que me refiro. As televisões, os jornais, as rádios, todos os meios online – blogues, sites – têm estado numa luta desenfreada para conseguirem saber o que se passa com a pequena Maddie.

Um aspecto que se salienta de toda a intervenção dos jornalistas portugueses, nomeadamente, prende-se com o facto de quererem descobrir a criança mesmo antes das autoridades responsáveis pela investigação. Até o Politicada se vê obrigado a escrever sobre o assunto, a realizar uma votação e a colocar como imagem da semana umas das inúmeras fotografias da desaparecida.

O que faz alguém raptar uma criança? O que leva alguns pais a deixarem os seus filhos – crianças – sozinhas em casa enquanto jantam num restaurante? As questões são proeminentes, conquanto não sejam aquelas que, nesta abordagem, me digam respeito.

O objectivo primeiro é questionar, observar e fazer uma pequena análise da cobertura jornalística que tem sido dada ao caso.

Outras questões se levantariam neste sentido. Aliás, foram mesmo levantadas outras interrogações, por exemplo com o caso da pequena Joana que, segundo algumas vozes que se fizeram ouvir, não teve a mesma “intensidade” nas buscas.

Penso que a palavra “intensidade” descreve objectivamente algo que é, por razões óbvias, subjectivo e complexo. Lagos foi assaltada por um exército de jornalistas com uma missão comum: saber, passo a passo, o que está a acontecer. Desde o babete – que uns dizem tratar-se de uma camisola de alças – até à deslocação dos pais de Madeleine para a PJ. As câmaras estão constantemente apontadas para o local do jornalista que, sempre que necessário, entra em acção para uma vez mais repetir toda a informação anterior e, quando possível, revelar algo de novo.

O jornalismo é assim. Repete-se para que o público absorva mais facilmente a informação. As investigações estão praticamente finalizadas sem que, todavia, se saiba o paradeiro da criança. O que será dos jornalistas? Dos helicópteros das televisões? Das centenas de cabos, dezenas de câmaras, jornalistas, carros de exteriores e enviados especiais à terra natal da pequena Maddie?

A resposta é óbvia. Todos regressarão a casa e, sempre que se justifique, voltarão ao ataque. O jornalismo é assim mesmo. E quanto aos pais? Este é um lado da história que é certamente mais difícil de delinear. As palavras consolam mas não trazem a criança. A cobertura jornalística ajuda (???) mas no final o resultado é o mesmo.

De todo este drama gostaria apenas de salientar um aspecto: a frente de ataque. Na primeira fila, no início da rua, nas conferências de imprensa da PJ – a tirarem as folhas ao director-adjunto – estão sempre os jornalistas. Há que distinguir aqui dois tipos de profissionais: os Portugueses e os Ingleses. Ou melhor, há que tentar encontrar diferenças entre ambos.

Os tablóides ingleses são reconhecidíssimos pelo sensacionalismo e pela “intensidade” com que tratam os factos. A novidade aqui, que não tem sido grande nos últimos tempos, é a actuação dos media portugueses. Neste suposto rapto que aconteceu em Lagos, os dois grandes exércitos uniram-se numa mesma luta.

Não vou alongar mais este “post”, mas pretendo apenas deixar “no ar” esta questão: a intensificação dos media portuguesa nos temas que mais mexem com os sentimentos das pessoas. Será que os media portugueses, em geral, estão a tornar-se sensacionalistas? Será esse, num futuro próximo, o critério de noticiabilidade? Pessoalmente espero que não. Na prática, quem tem visto televisão, lido jornais ou media online ou mesmo ouvido noticiários, saberá do que aqui se trata…

É curioso conhecermos determinados pressupostos jornalísticos e percebermos que na prática nada disso existe. Não há sequer a preocupação em saber se a cobertura jornalística está a corresponder aos interesses da maioria do público. Acredito que os portugueses estejam, por esta altura, ansiosos por saberem o paradeiro da menina. Do mesmo modo, também acredito que estejam fartos de terem, de manhã à noite, imagens e relatos da pequena Maddie a entrarem-lhe pela casa dentro.

Só para terminar, até a resignação de Tony Blair veio em hora inoportuna. Talvez o sr. Blair devesse “puxar as orelhas” aos seus assessores por não terem escolhido uma boa altura para o seu comunicado. Enfim, o jornalismo é isto mesmo. Vive de encontros e desencontros, tanto no país como no mundo. Não é isso que ouvimos diariamente?

terça-feira, maio 01, 2007

O Silêncio

No meio de mais uma polémica a envolver a Câmara de Lisboa, desta vez com Carmona chamado a depor como arguido, eis que surge mais uma variável...o Silêncio. Parece estranho, mas é mesmo verdade. Se Carmona fugiu, em silêncio, melhor não fez o líder do PSD que, depois do dito silêncio, prometeu "falar a muito curto prazo". Coisas da política, sim, mas não só. Li num dos muito livros de Relações Públicas que estudei na faculdade - confesso que na altura os julgava inúteis - que o silêncio é a pior arma nas alturas de crise. Ora se julgar que isto não é uma crise no seio do município e do PSD está fora de hipótese, julgo mesmo que só pode ser um erro estratégico dos envolvidos.

O Exemplo Sócrates

Apesar das sondagens não reflectirem uma grande alteração na popularidade do nosso "Primeiro", é óbvio aos olhos de todos que o Silêncio que mediou a notícia das dúvidas quanto ao seu curriculum e a entrevista na RTP manchou a sua imagem. Os danos são para já difíceis de calcular mas a bala está lá - inegavelmente. A oposição, para além de não ter aproveitado o tal Silêncio, também ela não lida bem com ele. Definitivamente há algo a fazer e sem dúvida muito a ensinar sobre o "Silêncio".