domingo, abril 03, 2005

Morreu o Papa João Paulo II


O Papa João Paulo II faleceu esta noite, às 21h37 (20h37 em Lisboa), no seu apartamento no Vaticano. Karol Wojtyla morreu aos 84 anos de idade, ao fim de quase 27 anos de pontificado.

O porta-voz do Vaticano informou ontem, pelas 11h30, aos jornalistas que o estado de saúde de Karol Wojtyla não se tinha alterado e que, por isso, se mantinha «gravíssimo».

João Paulo II sofria de uma infecção urinária que desencadeou um choque séptico e um colapso cárdio-respiratório que agravaram o estado de saúde do Santo Padre: «tinha começado a observar-se perda do estado de consciência», anunciou o porta-voz do Vaticano.

O Santo Padre recebeu ontem, durante a missa da festa litúrgica da Divina Misericórdia, o Santo Viático e, uma vez mais, o Sacramento da Unção dos Doentes.

«As últimas horas do Santo Padre foram caracterizadas por uma oração ininterrupta de todos os que o assistiram na pia passagem, bem como pela participação coral dos milhares de fiéis recolhidos há muitas horas na Praça de São Pedro», declarava o comunicado oficial do Vaticano.Eduardo Somalo, o cardeal camerlengo, procedeu ao ritual tradicional de bater três vezes na cabeça do Santo Padre com um pequeno martelo de prata e chamar pelo seu nome de baptismo, antes da confirmação do óbito.

A morte do Papa foi anunciada ao povo de Roma, após ser confirmado o óbito. Leonardo Sandri, em nome do vigário-geral de Roma, o cardeal Camillo Ruini, fez o anúncio da morte às cerca de cem mil pessoas que se encontravam na Praça de S. Pedro.

A morte de João Paulo II foi comunicada pelo cardeal camerlengo ao deão do Sacro Colégio dos Cardeais, o alemão Joseph Ratzinger. Cabe a Ratzinger a convocatória do conclave e a comunicação oficial da morte do pontífice aos Estados com os quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas.

O cardeal Ângelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano, entoou em seguida o "De profundis". O mesmo cardeal celebrou, esta manhã pelas 10h30 (09h30 em Lisboa), a missa da "Divina Misericórdia" em memória de João Paulo II.

As cerimónias fúnebres terão a duração de nove dias e o corpo será sepultado entre o quarto e o sexto dia após a morte. Os restos mortais de João Paulo II ficarão em câmara ardente na Basílica de S. Pedro, até ao dia funeral. Os elementos pertencentes ao conclave, 117 cardeais com menos de 80 anos que deverão reunir-se entre o 15º dia e o 20º dia após a morte do Papa, vão votar o substituto de João Paulo II.

O Percurso

Karol Wojtyla nasceu a 18 de Maio de 1920 em Wadowice, Cracóvia, tendo perdido a mãe aos oito anos. A invasão nazi da Polônia em 1939 levou ao encerramento da Universidade de Cracóvia onde estudava filosofia e três anos depois inicia, em segredo, os estudos se para tornar padre. Wojtyla foi ordenado em 1946, tendo viajado para Roma onde terminou os seus estudos. Doze anos depois tornava-se o mais jovem bispo polaco. Em 1964 é promovido a arcebispo de Cracóvia e, três anos depois, é feito cardeal pelo então Papa Paulo VI.

Karol Wojtyla foi eleito Papa a 16 de Outubro de 1978, tendo iniciado, seis dias depois, o terceiro pontificado mais duradouro da história da Igreja Católica. O pontificado de João Paulo II ficou marcado pela sua abertura ao mundo, pelas inúmeras viagens, pelo ecumenismo.

As reacções

O Governo da Itália decretou três dias de luto nacional pela morte do Papa, contados a partir de hoje, sendo o dia do funeral também dia de luto nacional.
Toda a comunidade internacional prestou homenagem a João Paulo II, expressando pesar pela sua morte.

Ariel Sharon, primeiro-ministro israelita, saudou hoje a memória de João Paulo II: «em nome do povo de Israel, exprimo o meu pesar e os meus pêsames pelo falecimento do papa João Paulo II, participando no luto de milhões de cristãos», acrescentando que João Paulo II «era um homem de paz, um amigo do povo judaico, que reconhecia a sua singularidade e que trabalhava para a reconciliação entre os povos». Sharon terminou a sua declaração afirmando que «o mundo perdeu um dos grandes líderes da nossa época».

Viktor Iuchtchenko, presidente ucraniano, anunciou, num comunicado da presidência, estar «profundamente entristecido» pela morte do papa, declarando que «a notícia trágica do fim da vida terrestre do papa João Paulo II encheu de uma tristeza inexprimível os corações dos ucranianos que rezavam pela sua saúde». «Perdemos um homem à escala planetária que pôs toda a sua vida ao serviço da humanidade e da Igreja, pelo que mereceu a graça de Deus e o respeito do mundo inteiro» acrescentou Iuchtchenko.

Vaclav Klaus, presidente da República Checa, enfatizou a figura de João Paulo II afirmando que Wojtyla «foi uma das personalidades mais significativas do mundo contemporâneo e um homem cuidadoso e sensível, que dedicou toda a sua vida aos ideais do amor ao homem, aos ideais da bondade humana, da humildade e ajuda aos necessitados».

O seu antecessor no cargo, Vaclav Havel, considerou João Paulo II como sendo «um homem magnífico com um grande carisma que teve participação decisiva nos destinos do futuro e na ordem política do mundo actual».

Também o presidente dos Emiratos Árabes Unidos, o xeque Jalifa bin Zayed Al Nahyan, lamentou hoje o falecimento João Paulo II, asseverando que este papa contribuiu para um maior entendimento entre o Islão e o Cristianismo: «estamos muito entristecidos pelo falecimento do Papa João Paulo II e em nome do Governo e do povo dos Emiratos Árabes Unidos exprimimos o nosso pesar aos membros da Igreja Católica em todas as partes do mundo». AL Nahyan acrescentou ainda que «nos seus esforços consagrados a promover a justiça, a paz e o amor entre os homens, João Paulo II foi uma antítese daqueles que apoiam uma dogmática e estreita interpretação da mensagem universal de Deus».

À semelhança do governo italiano, também o governo português decretou ontem três dias de luto nacional pela morte do Papa João Paulo II. O presidente da República, Jorge Sampaio, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, serão os representantes portugueses nas cerimónias fúnebres.

«O Papa João Paulo II foi uma das figuras mais marcantes da história contemporânea, como é reconhecido universalmente, seja qual for o juízo que se faça da sua acção e do seu legado», descreveu Jorge Sampaio, proferindo ainda que Wojtyla foi um «adversário acérrimo do comunismo colectivista, também o foi do capitalismo egoísta, sem consciência humanista e sem solidariedade e de uma concepção do lucro como o grande fim da actividade humana».

O primeiro-ministro português, José Sócrates, declarou que «foi durante o seu pontificado que se reviu a Concordata entre o Estado português e a Igreja Católica em moldes mais actuais», lembrando «o empenhamento do papa nas causas dos direitos humanos e no diálogo entre civilizações, culturas e religiões».

Fontes: Lusa “1”, Lusa “2”, JN e Público

Sem comentários: