Publicado hoje no Diário Económico:
A crise que muitos analistas dizem já ter passado, continua a marcar as empresas nacionais. Ao desemprego juntam-se agora o atraso ou o não pagamento de salários.
No dicionário, a palavra Salário significa “retribuição pecuniária do serviço executado”. A palavra deriva do latim Salarium e nasceu de sal, outrora usado como forma primária de pagamento.
Há quem diga que a maior e mais difícil privação para o ser humano é a do sono, associada muitas vezes às forças especiais ou a quem, por outro tipo de obrigações, tem o tempo de tal forma ocupado que não sobra muito para dormir. E se este primeiro ponto não merece grande contestação – quem não conhece as consequências de noites mal dormidas que atire a primeira pedra – o próximo também não: a privação de salário.
São várias as centenas de milhar de desempregados em Portugal. Mas há (felizmente!) quem esteja no outro prato da balança, apesar da conjuntura ainda muito difícil do país. São pessoas com trabalho, que se levantam todos os dias para cumprirem com as suas tarefas a tempo e horas. Que aguentam horas extra sem que estas lhes sejam pagas. Que abdicam da família porque o trabalho a isso obriga. Colocam-se em segundo plano para que no topo esteja sempre e só o empregador. Até se sujeitam, por causa da conjuntura adversa, a atrasos nos pagamentos. Há, no entanto, nesta equação uma variável que não pode ser ignorada: o não pagamento de salários.
O pior cenário que um qualquer trabalhador pode ter em termos profissionais, além do desemprego, é trabalhar mas não ser pago por isso.
A lei nem sempre protege quem mais dela precisa. Os que querem trabalhar mas, nestes casos, não conseguem vêem-se obrigados a deslocar-se para o emprego até que os prazos legais sejam atingidos. Recorrem a quem os pode auxiliar – mesmo que também com dificuldades; deixam de pagar as prestações. Entram em incumprimento mesmo que em primeira e última instância isso não seja necessariamente responsabilidade sua! Encontram desculpas para se desculparem. Fazem ver aos bancos que se não pagam é – mesmo! – porque não podem. E estes casos são muitos. Por causa da crise, são cada vez mais!
Os empregadores, que têm a responsabilidade de pagar os ditos salários, começam a ficar sem sal. Outros já não têm quaisquer receitas para o fazer. Há quem não consiga cumprir com as suas obrigações salariais não por vontade, ou porque sim, mas porque a tal conjuntura se complicou de tal forma que há que ir racionando o dinheirito que vai entrando. Para muitos, a solução será o fecho de portas, sem dinheiro para actualizar os salários em atraso e muito menos para pagar indemnizações. Mais uma vez, a lei nem sempre é amiga de quem fica literalmente a arder.
Perante este cenário, o salário, ou a falta dele, torna-se uma maldição. O trabalhador mantém a família em segundo lugar mas com a agravante de não levar para casa o dinheiro que permite saldar contas e comprar comida. Castiga-se psicologicamente por não o conseguir. Acredita que não há alternativa. Um estudo publicado em Fevereiro do ano passado, na revista The Lancet Psychiatry, revela que, por ano, há 45 mil pessoas que se suicidam porque estão desempregadas. Sobre Portugal, conclui que foi o país “mais afectado em termos de suicídios ligados ao desemprego”, apesar da “qualidade dos dados disponíveis ser bastante fraca”. Mais importante do que estes dados, é mostrar-se a quem não tem salário ou emprego que há alternativas. E que algumas podem ser viáveis!